O governo Dilma Rousseff sofreu uma derrota histórica na noite deste
domingo (1º) com a eleição em primeiro turno do peemedebista Eduardo
Cunha (RJ), 56, para a presidência da Câmara dos Deputados.
Considerado um aliado pouco confiável, já que liderou rebelião no
Legislativo contra Dilma em 2014, Cunha bateu o petista Arlindo
Chinaglia (SP), nome bancado pelo Planalto, por 267 votos contra 136.
Horas antes da votação, petistas e integrantes do Palácio do Planalto já
haviam "jogado a toalha" e buscavam culpados pelo vexame. O resultado
deste domingo explicita o racha na base do governo e expõe a presidente à
realidade de que não tem controle sobre sua base de apoio, já que não
evitou o fracasso nem com a mobilização em massa de ministros nos
últimos dias.
Outros 100 deputados votaram em Júlio Delgado (PSB-MG) e 8, em Chico Alencar (PSOL-RJ). Houve dois votos em branco.
A votação foi secreta. Entre apoiadores de Cunha e de Chinaglia houve
consenso de que PR, PSD e PDT lideraram as traições de governistas em
prol da candidatura do peemedebista.
Apesar de adotar um discurso de que não fará uma gestão de oposição ao
governo, Cunha emerge neste domingo como uma das principais dores de
cabeça para o Planalto, já que tem poderes, entre outros, para dar
seguimentos a CPIs incômodas para o governo e até a eventual processo de
impeachment contra a presidente da República.
O peemedebista já declarou, por exemplo, que irá apoiar a instalação de
uma nova CPI para apurar o escândalo de corrupção na Petrobras.
"Buscaremos a altivez e a independência do parlamento, independência
essa que não quer dizer oposição, mas que também não quer dizer
submissão. (...) Não há possibilidade de que eu vá exercer uma gestão de
oposição, mas também ninguém vai me ver se curvar ou ser submisso a
qualquer coisa que não seja a vontade da maioria desta Casa", afirmou
Cunha em seu discurso antes da votação.
O cenário governista se agrava mais pelo fato de o Planalto ter
mobilizado ministros e aliados nas últimas semanas para tentar dinamitar
a candidatura de Cunha, o que possivelmente acarretará em sequelas na
relação.
Em seu discurso no plenário da Câmara, o novo presidente da Câmara
sublinhou esse mal estar. Disse que foi tratado não como adversário, mas
como inimigo pelo PT. Ele defendeu ainda que não haja hegemonia de um
partido no comando do Executivo e do Legislativo. "É bom para a
sociedade e para o parlamento que esse poder seja distribuído."
A última vez em que o governo sofreu derrota semelhante na Câmara foi na
surpreendente eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência
da Casa, em 2005, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, o
deputado do PP acabou se beneficiando de um racha dentro do próprio PT,
que lançou dois candidatos.
ROUPA SUJA
Cunha conseguiu reunir em torno de si o apoio oficial de partidos que
somam 218 deputados. Chinaglia formalizou um bloco com apenas 160
cadeiras.
Parte do PT aponta o dedo para o novo ministro das Relações
Institucionais de Dilma, o deputado Pepe Vargas (RS), que teria deixado
muito explícita a intervenção do governo pró-Chinaglia.
Outros reclamavam do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), que
chamou pra si a responsabilidade de avalizar indicados para cargos
federais, o que irritou partidos aliados.
Uma avaliação, porém, era quase unânime: a falta de interlocução de
Dilma com congressistas e as ameaças de retaliação do governo como forma
de buscar votos para Chinaglia contribuíram para o clima de
insatisfação dos partidos com o Planalto.
Um dos exemplos de desacerto ficou evidente neste domingo. Tendo
declarado apoio a Chinaglia, o PDT acabou ficando de fora do bloco
petista porque não entregou no prazo as assinaturas suficientes. Dentro
do PT, porém, a avaliação geral é a de que não houve um mero descuido
burocrático, mas sim uma ação pensada para fortalecer a candidatura de
Cunha.
Petistas afirmam que o partido do ex-governador Leonel Brizola
(1922-1924) negociou com o PMDB nos bastidores a defecção com a promessa
de assumir a Comissão de Trabalho da Câmara na gestão de Cunha.
LAVA JATO
Iniciando seu quarto mandato na Câmara dos Deputados, Cunha exercerá o
mandato na presidência da Câmara até janeiro de 2017, sucedendo o também
peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN).
O novo presidente da Câmara deverá ser alvo de inquérito no Supremo
Tribunal Federal no caso da Operação Lava Jato, que apura o esquema de
corrupção na Petrobras. O pedido, conforme a Folha revelou, partirá da Procuradoria-Geral da República. O peemedebista nega qualquer relação com o caso.
Anti-candidato da disputa, Chico Alencar foi o único a citar a Lava Jato
em sua fala. Parodiando o Manifesto Comunista, ele lembrou que as
investigações, que devem envolver congressistas, são o "espectro" que
ronda o Congresso.
Até que enfim, uma boa notícia>
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