17/02/2015
às 22:01 \ Direto ao Ponto
Trinca de pecadores: a sucessora que se imagina Filha do Mestre, o marqueteiro que se considera porta-voz do Espírito Santo e o farsante que se promoveu a messias
ATUALIZADO ÀS 22H01
A economia está fazendo água — e, desde o tempo das cavernas, é
quando ela bate na linha da cintura que o homem começa a nadar. O
pibinho vai descendo a níveis siberianos, a inflação mesmo maquiada
rompe a fronteira dos 7%, o dragão domesticado pelo Plano Real soluça
nas cercanias dos dois dígitos. O rombo nas contas públicas é de
assustar esquerdista grego, os juros sobrevoam a estratosfera, o
desemprego cresce, a alta do dólar escancara a desconfiança mundial no
Brasil.
O que Dilma faz para escapar do afogamento nessas cataratas de
trapalhadas e más notícias? Procura afinar-se com Joaquim Levy?
Esforça-se para aprender alguma coisa com o ministro da Fazenda
fustigado pela idiotia do PT, pela ganância da base alugada, por
“movimentos sociais” atolados no século 19, pela sede dos ministros que
bebem verbas? Nada disso.
A supergerente de araque limita-se a pedir conselhos a Lula e encomendar ideias a João Santana.
O edifício lulopetista está sitiado por rachaduras internas e
fraturas expostas nos alicerces. A bancada fiel a Dilma na Câmara é
insuficiente para eleger um vereador de grotão. No Senado, os contratos
com o grupo de Renan Calheiros são tão confiáveis quanto os prazos do
PAC. A geleia geral que os colunistas estatizados qualificam de “núcleo
duro”do segundo mandato é outra reedição piorada dos Três Patetas.
Depois de ter montado o pior ministério da história, a doutora em
nada faz o que pode para tornar ainda mais medonho o segundo escalão. As
crias da Era da Mediocridade são incapazes de caminhar e mascar
chiclete ao mesmo tempo. Nenhum interlocutor que tenha algo de útil a
dizer tem tempo a perder com a mulher que fala dilmês. Não há sinais de
vida inteligente no Palácio do Planalto. Diante disso, o que faz o
neurônio solitário?
Encomenda ideias ao padrinho e pede conselhos ao marqueteiro do reino.
A pesquisa do Datafolha reafirmou a trágica contemporaneidade da
lição ministrada por Mário de Andrade, há quase 90 anos, pela boca do
personagem Macunaíma: “Muita saúva e pouca saúde os males do Brasil
são”. Para os entrevistados, o segundo maior problema do país é a
corrupção amamentada pelo Planalto. O ranking dos tormentos nacionais
continua liderado pelo sistema de saúde que Lula, cliente VIP do Sírio
Libanês, qualificou de “perto da perfeição”.
Perto da perfeição chegaram, isto sim, as saúvas de estimação cevadas
desde o dia da posse pelo chefe-supremo de todas as bandalheiras. Os
liberticidas larápios perderam a compostura em Santo André, perderam o
juízo no Mensalão, perderam a vergonha no Petrolão. Em parceria com
Dilma, Lula transformou o Brasil Maravilha num viveiro de quadrilhas
impunes. Todas roubaram muito. Nenhuma roubou tanto quanto a desbaratada
pela Operação Lava Jato, devassada por procuradores federais e
exemplarmente enquadrada pelo juíz Sérgio Moro.
O roteiro reescrito pelas investigações está chegando ao climax. José Dirceu (codinome Bob)
e Antônio Palocci, por exemplo, acabam de entrar em cena. É iminente a
subida ao palco do astro principal. Se não fosse tão indigente o
material aproveitável na cabeça baldia de Lula, se Dilma ao menos
suspeitasse da própria mediocridade, se Santana conhecesse o limite da
bandalheira, os três estariam cruzando madrugadas insones desde a
publicação da pesquisa.
O Datafolha traduziu em algarismos e índices o retrato dramaticamente
revelador esboçado pelas urnas de outubro. A presidente se reelegeu a
bordo das tapeações de mágicos de picadeiro, nas falácias dos coronéis
com topete implantado, nas vigarices e violências colecionadas pelas
diversas ramificações que compõem o Grande Clube dos Cafajestes no
Poder. Em pouco mais de um mês, o coro dos contentes ficou afônico, os
truques deixaram de funcionar, a taxa de popularidade de Dilma foi
devastada pelo raquitismo irreversível.
A rainha de João Santana está nua. Dilma é considerada falsa por 47%
dos brasileiros, desonesta por 54% e indecisa por 50%. Para 52%, a
presidente sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse.
Confrontada com tantas estatísticas pressagas, o que faz a chefe de
governo? Tenta tomar distância dos delinquentes irrecuperáveis? Esquece
no guarda-roupa as fantasias esfarrapadas?
Nada disso. Chama para encontros a sós os comparsas de sempre e gasta
horas em sussurros com equilibristas manuetas, contadores de lorotas
sem vagas sequer em mesa de botequim, vigaristas incapazes de renovar o
estoque de embustes. O Brasil está mudando. Os velhacos só ficaram mais
velhos. Lula segue recitando declarações de guerra à misteriosa entidade
que batizou de “eles”. Dilma vislumbra imperialistas americanos por
trás da ladroagem na Petrobras. João Santana delira (e enriquece)
fundando pátrias educadoras.
Nenhuma farsa dura para sempre. Em parceria, Lula e Dilma enganaram
milhões de paspalhos com o país autossuficiente em petróleo que importa
um oceano de barris por ano, com as colossais jazidas do pré-sal que
continuam nos abismos do Atlântico, com a nação que apesar da
erradicação dos miseráveis tem andrajos hasteados em todas as esquinas,
fora o resto. A terra dos abúlicos está farta de tanto cinismo.
O palanque ambulante está desgovernado. Dilma é só um poste instalado
no Planalto para fazer o que o mestre mandar. Os mais de 51 milhões de
brasileiros que votaram contra o PT riscaram um ponto de não-retorno.
Dilma já completou seis semanas de mudez (e já faz alguns anos que não
diz coisa com coisa). Lula posa de campeão das urnas sem jamais ter
vencido uma eleição majoritária no primeiro turno.
Desde aquela vaia que estrugiu no Maracanã na abertura do Pan-2007, o
único líder de massas que tem pavor de multidão só se apresenta para
plateias amestradas. Se a candidatura prometida para 2018 for para
valer, vai descobrir um país sem parentesco com o inventado pelo
recordista mundial de bravata & bazófia. Durante a campanha, por
exemplo, os entrevistadores já não poupam espertalhões. O que dirá sobre
o Caso Rose? E sobre o Petrolão? Se balbuciar que nada viu e nada sabe,
será desmoralizado pela gargalhada nacional.
Dilma, Lula e Santana não deveriam perder tempo com trocas de ideias
que não têm. A trindade nada santa faria um favor a si própria se saísse
à caça de álibis que até agora não há.
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