Na primeira entrevista desde que foi preso, o ex-deputado Roberto Jefferson, 61, afirmou à Folha que o escândalo da Petrobras é o "epílogo do mensalão", que ele denunciou ao jornal em 2005.
O petebista diz que os dois casos tiveram a mesma motivação: financiar o "projeto do PT para se perpetuar no poder". "O mensalão foi o prefácio. Agora o Brasil está lendo o epílogo", afirma.
Jefferson acusa a presidente Dilma Rousseff (PT) de encobrir corruptos para preservar seu partido e compara o aliado Aécio Neves (PSDB) ao lutador vivido no cinema por Sylvester Stallone. "É o Aécio Balboa. Apanhou nove assaltos e virou a luta no décimo."
O ex-deputado, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão, recebeu a Folha nesta segunda (13) no escritório de advocacia em que começou a trabalhar. Às 18h30, voltaria à prisão em Niterói (RJ).
Ele quer mudar para o regime aberto daqui a seis meses e já sonha em retornar ao Congresso em 2022, quando recuperar os direitos políticos. "Eu voltarei", promete.
Folha – O sr. denunciou o mensalão no governo Lula. Como vê o escândalo da Petrobras?
Roberto Jefferson – Se você reparar a data, isso vem lá do mensalão. É o financiamento de base, da estrutura da base do governo, para o PT se perpetuar no poder. O mensalão foi o começo da destruição do mito do PT. Esse caso da Petrobras consolida o que já vem de 2005. É o epílogo daquela história. O mensalão foi o prefácio, agora o Brasil está lendo o epílogo. O PT prostituiu a classe política.
A Petrobras é a maior empresa do Brasil, uma das maiores do mundo. Isso é o pior assalto que nós já vimos. Pega governadores, senadores, a elite do Congresso. É uma bomba atômica. No ano que vem, vamos ver muitos processos de cassação.
Como avalia o governo da presidente Dilma Rousseff?
Dilma é uma mulher séria, honrada. Mas tem uma herança de corrupção terrível do partido, que não pode expor porque pode atingir o Lula. Ela está manietada, é uma presidente pela metade. Ela tem um compromisso de silêncio. Não pode expor as vísceras do partido que integra. A Dilma está engordando. É sofrimento, ansiedade.
Na política econômica, é um desastre. Ela está desorganizando os fundamentos da economia. Adotou no BNDES uma política russa, de proteger os empresários que são compadres do governo. É como o Putin faz.
Está acompanhando a disputa eleitoral da prisão?
Leio os quatro jornais todo dia. Tenho TV na cela, acompanhei os debates. Vibrei muito com o Aécio. É meu velho amigo, fiquei muito feliz com a ida ao segundo turno.
Ele teve que aguentar dois desastres: a queda do avião do Eduardo Campos e a decolagem da Marina nas pesquisas. Era uma candidatura inconsistente, mas não é fácil vencer a emoção com a razão. O Aécio resistiu. É o Aécio Balboa, o lutador. Apanhou nove assaltos e virou no décimo, no debate da Globo.
Ele mostrou, com apoio do eleitor, que não somos uma republiqueta bolivariana.
O sr. articulou da cadeia para o PTB apoiar Aécio?
Não pude liderar o processo, mas sei que muitos convencionais do PTB tomaram a
decisão em solidariedade a mim. Eles não podiam apoiar o meu algoz, que era o PT.
Vai falar com ele agora?
Tudo o que eu fizer pode ser interpretado para atingi-lo. Não quero ser chibata para bater no Aécio. Sou um réu condenado, em cumprimento de pena. Não tenho que fazer isso.
Minha filha [a deputada federal eleita Cristiane Brasil] dá o recado.
Na semana passada, ela esteve com ele em Brasília, na festa do Memorial JK. Eu disse: "Filha, dá um abraço nele. O pai tá gostando..."
O que decidirá a eleição?
Os debates serão fundamentais. Aécio tem experiência em derrotar o PT, sempre derrotou.
O povo cansou do PT. Não é só por causa das denúncias. Eles querem mais quatro anos, para depois voltar o Lula. Serão vinte anos. Quem aguenta isso?
O Brasil ficou muito tempo sem oposição. Quem fez o papel da oposição, mostrando os erros que aí estão, foi a mídia. Por isso o PT quer o controle social, para calar a mídia. Na Venezuela, até papel proibiram de entrar, para os jornais não circularem. Se persistir o PT, nós não vamos ter papel para circular jornal. É um projeto totalitário, de poder a qualquer preço.
Na eleição do Rio, apoiará Luiz Fernando Pezão (PMDB) ou Marcelo Crivella (PRB)?
Pezão. O Crivella é a soma de bispo Macedo, Garotinho, Lindberg e Paulo Roberto Costa. É o homem da Igreja Universal. Eles já chutaram a santa. Se for eleito, vai querer derrubar o Cristo Redentor.
O sr. está preso desde o fim de fevereiro. Já se arrependeu?
Nunca me arrependi. Deus só dá carga a quem pode puxar. Estou saindo mais forte. Sou vítima das minhas palavras e das minhas atitudes, mais nada.
Fui condenado a mais tempo de prisão do que o [José]Genoino, presidente do PT, e que o Delúbio [Soares], tesoureiro do PT. Eles articularam o mensalão. Fui o denunciante e fiquei mais tempo preso que os denunciados. Mas saí sem mágoa ou ressentimento. Faria tudo de novo.
O sr. confessou ter recebido R$ 4 milhões do caixa dois do PT. O que fez com o dinheiro?
Vocês sabem que eu partilhei. Por que eu nunca perdi influência no meu partido? Porque os candidatos a prefeito receberam aquele recurso que o PT transferiu ao PTB na eleição de 2004. E podem ficar em paz, porque eu não vou revelar [quem recebeu].
Como vê seu futuro?
Daqui a seis meses, vou pleitear o regime aberto para dormir em casa, com tornozeleira. A cassação dos direitos políticos dura oito anos.
Ainda quer ser deputado?
Eu voltarei. Sinto muita falta de Brasília, do Congresso e do PTB. Minha vida é essa, não sei fazer outra coisa.
Acha que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que defendeu sua condenação, vai entrar na política?
Ele tem perfil. É um grande nome, vai ter voto. Não tenho ressentimentos. O PTB está aberto para ele. (risos)
FOLHA - UOL
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