A CAPA DE VEJA – Ou: Se Dilma for reeleita, o presidente do Brasil acabará sendo Michel Temer. Ou: Além de dizer que a governanta sabia da roubalheira na Petrobras, doleiro diz que pode ajudar polícia a identificar contas secretas do PT no exterior. Parece que a casa caiu!
O governo
segurou dados negativos sobre o Ideb, a miséria e a arrecadação, entre
outros, porque teme que eles possam prejudicar a votação da candidata do
PT à reeleição. Já é um escândalo porque o estado brasileiro não
pertence ao partido. Ao jornalismo não cabe nem retardar nem apressar a
publicação de uma reportagem em razão do calendário eleitoral. A boa
imprensa se interessa por fatos e disputa, quando muito, leitores,
ouvintes, internautas, telespectadores. Na terça-feira passada — há três
dias, portanto —, o doleiro Alberto Youssef, preso pela Operação Lava
Jato, deu um depoimento estarrecedor à Polícia Federal e ao Ministério
Público. A revista VEJA sabe o que ele disse e cumpre a sua missão:
dividir a informação com os leitores. Se, em razão disso, pessoas
mudarão de voto ou se tornarão ainda mais convictas do que antes de sua
opção, eis uma questão que não diz respeito à revista — afinal, ela não
disputa o poder. E o que disse Youssef, como revela VEJA, numa
reportagem de oito páginas? Que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff sabiam da roubalheira que havia na Petrobras.
Mais:
Youssef se prontificou a ajudar a Polícia a chegar a contas secretas do
PT no exterior. Segundo as pesquisas, Dilma poderá ser reeleita
presidente no domingo. Se isso acontecer e se Youssef fornecer elementos
que provem que a presidente tinha conhecimento das falcatruas, é certo
como a luz do dia que ela será deposta por um processo de impeachment.
Não é assim porque eu quero. É o que estabelece a Lei 1.079, com base na
qual a Câmara acatou o processo de impeachment contra Collor e que
acabou resultando na sua renúncia. O petrolão já é o maior escândalo da
história brasileira e supera o mensalão.
O diálogo que expõe a bomba capaz de mandar boa parte do petismo pelos ares é este:
— O Planalto sabia de tudo!
— Mas quem no Planalto?, perguntou o delegado.
— Lula e Dilma, respondeu o doleiro.
Youssef
diz ter elementos para provar o que diz — e, em seu próprio benefício, é
bom que tenha, ou não contará com as vantagens da delação premiada e
ainda poderá ter a sua pena agravada. A sua lista de políticos
implicados no esquema já saltou, atenção, de 30 para 50. Agora, aparece
de forma clara, explícita, em seu depoimento, a atuação de José Sérgio
Gabrielli, presidente da Petrobras durante o califado de Lula e em parte
do governo Dilma. Entre outros mimos, ele revela que Gabrielli o chamou
para pagar um cala-boca de R$ 1 milhão a uma agência de publicidade que
participava do pagamento ilegal a políticos. Nota: Youssef já contou à
PF que pagava pensão mensal a membros da base aliada, a pedido do PT,
que variavam de R$ 100 mil a R$ 150 mil.
Pessoas
que conhecem as denúncias de Youssef asseguram que João Vaccari Neto —
conselheiro de Itaipu, tesoureiro do PT e um dos coordenadores da
campanha de Dilma — será fulminado pelas denúncias. O doleiro afirma
dispor de provas das transações com Vaccari. Elas compõem o seu
formidável arquivo de mais de 10 mil notas fiscais, que servem para
rastrear as transações criminosas.
Contas no exterior
É nesse
arquivo de Youssef que se encontram, segundo ele, os elementos para que a
Polícia Federal possa localizar contas secretas do PT em bancos
estrangeiros, que o partido sempre negou ter, é claro. Até porque é
proibido. A propósito: o papel de um doleiro é justamente fazer chegar,
em dólar, ao exterior os recursos roubados, no Brasil, repatriando-os
depois quando necessário.
Por que
VEJA não revelou isso antes? Porque Youssef só depôs na terça-feira. A
revista antecipou a edição só para criar um fato eleitoral? É uma
acusação feita por pistoleiros: VEJA publicou uma edição na sexta-feira
anterior ao primeiro turno e já tinha planejada e anunciada uma edição
na sexta-feira anterior ao segundo turno. Mas que se note: ainda que o
tivesse feito, a decisão seria justificada. Ou existe alguém com
disposição para defender a tese de que vota melhor quem vota no escuro?
Quanto ao
risco de impeachment caso Dilma seja reeleita, vamos ser claros:
trata-se apenas da legislação vigente no Brasil desde 10 de abril de
1950, que é a data da Lei 1.079, que define os crimes de
responsabilidade e estabelece a forma do processo. Valia para Collor.
Vale para Dilma. Se Youssef estiver falando a verdade — num processo de
delação premiada — e se Dilma for reeleita, ela será deposta. Se a
denúncia alcançar também seu vice, Michel Temer, realizam-se novas
eleições diretas 90 dias depois do último impedimento se não tiver
transcorrido ainda metade do mandato. Se os impedimentos ocorrerem nos
dois anos finais, aí o Congresso tem 90 dias para eleger o titular do
Executivo que concluirá o período.
Informado, o eleitor certamente decide melhor. A VEJA já está nas bancas.
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