Chego ao final desta longa caminhada honrado pela livre vontade dos
brasileiros de representar o sonho da mudança que move o país. Em cada
pedaço de chão por onde caminhei, tive o privilégio de me encontrar com o
Brasil de verdade e de ver transmudadas frustrações e desalento em
indignação e novas esperanças, que alimentaram meu espírito e tornaram
ainda mais vivas as nossas grandes causas.
Obstinadamente, procuramos cumprir o nosso dever. Mergulhamos na
realidade nacional e em problemas gigantescos, que se eternizaram pela
incúria do atual ciclo de poder. Repete-se hoje o que já vimos: uma
década perdida e sonhos de futuro adiados pelas circunstâncias ou pela
conveniência.
Ao final, a constatação é a de que há quase tudo a ser feito e resta
intocada uma grandiosa dívida social para com os brasileiros que querem
melhorar de vida. Um novo e definitivo salto de desenvolvimento acabou
engolfado pela má gestão, pelo desapreço ao planejamento, pelo
aparelhamento do Estado, nenhum compromisso com o resultado e um projeto
de país.
O nosso povo cobra uma nova e corajosa condução da economia nacional,
capaz de reverter a posição do mais promissor entre os países
emergentes, agora adernado na lanterna do crescimento, sem credibilidade
e confiança, em plena recessão.
A estabilidade duramente conquistada fraqueja, atingida pela inflação. A
balança comercial no vermelho e a desindustrialização em curso destroem
a nossa indústria e nos roubam os melhores empregos.
Quase nenhum passo foi dado para resgatar da precariedade a nossa
infraestrutura. Nesse campo, a paisagem é desoladora: obras pela metade,
com orçamentos decuplicados, abandonadas pelo caminho.
No campo social, crises desrespeitam os cidadãos que mais precisam:
hospitais públicos afundados em insuficiências, repletos de doentes sem
atendimento digno! Persistem as filas para consultas, exames, cirurgias e
remédios.
No campo da segurança, prevalece a omissão. O governismo abdicou da
responsabilidade de coordenar uma efetiva política nacional e assiste,
impassível, à tragédia de 56 mil assassinatos por ano, terceirizando
responsabilidades a Estados e municípios endividados. Estamos perdendo
uma geração inteira de jovens brasileiros, vítimas ou aliciados pelo
crime.
Dos gabinetes em Brasília anunciou-se o fim da miséria, atropelando a
realidade de um país ainda desigual. Essas, entre outras, são realidades
do Brasil que hoje define seu futuro. Contentaram-se com a gestão
diária da pobreza para instrumentalizá-la, como fazem agora,
chantageando os beneficiários dos programas sociais com o tradicional
terrorismo petista.
Para fazer a grande mudança que o país exige, será preciso mais do que
propostas inovadoras e eficientes de boa governança. O primeiro passo é o
resgate de princípios e valores cruciais –ética, transparência e
planejamento público, qualidade dos gastos do Estado, do controle de
resultados e tolerância zero com a corrupção. Acrescento ainda uma
inédita audição da nossa sociedade, para tornar efetiva a participação
dos cidadãos nos destinos do país.
Uma nova agenda se impõe.
No plano da gestão, é preciso acabar com o gigantismo e desperdícios de
um governo com 39 ministérios e milhares de cargos de confiança, que
servem a todos os interesses, menos ao interesse público.
A prioridade é cuidar das grandes emergências em duas áreas capitais
–saúde e segurança–, que não podem esperar. Delas depende a vida das
pessoas.
A retomada do crescimento demanda uma economia saudável e previsível,
que não penaliza quem trabalha e produz, e um governo que guarda com
zelo as políticas que estão sob sua responsabilidade. A primeira delas é
gastar menos com o governo para poder investir mais na população.
Simultaneamente, temos que construir uma agenda para o futuro, que
depende de uma nova escola e de um salto na qualidade da educação
pública. Sem educação transformadora, nenhum sonho de desenvolvimento se
tornará real e possível.
AÉCIO NEVES, 54, senador por Minas Gerais, é candidato à Presidência da República pelo PSDB
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