Dilma Rousseff lança mão do argumento da crise para justificar fracasso econômico
(Ueslei Marcelino/Reuters)
Um grupo de 164 professores de Economia de universidades brasileiras e estrangeiras assinou um documento nesta
terça-feira rechaçando os principais argumentos defendidos pela
presidente Dilma Rousseff para justificar o fracasso econômico de seu
governo. Aquele que tem sido o mais usual na gestão da presidente (e em
sua campanha pela reeleição) é o de que a crise internacional é a
culpada pelos males que afligem o país, como a inflação e a recessão.
Dizem os acadêmicos: "Não há, no momento, uma crise internacional
generalizada. Alguns de nossos pares na América Latina, uma região
bastante sensível a turbulências na economia mundial, estão em franca
expansão econômica. Projeta-se, por exemplo, que a Colômbia cresça 4,8%
em 2014, com inflação de 2,8%. Já a economia peruana deve crescer 3,6%,
com inflação de 3,2%. O México deve crescer 2,4%, com inflação de 3,9%.1
No Brasil, teremos crescimento próximo de zero com a inflação próxima
de 6,5%. Entre as 38 economias com estatísticas de crescimento do PIB
disponíveis no sítio da OCDE, apenas Brasil, Argentina, Islândia e
Itália encontram-se em recessão. Como todos os países fazem parte da
mesma economia global, não pode haver crise internacional generalizada
apenas para alguns. É emblemático que, dentre os países da América do
Sul, apenas Argentina e Venezuela devem crescer menos que o Brasil em
2014."
Acadêmicos brasileiros de centros como a Universidade de São Paulo, a
Fundação Getulio Vargas, o Insper, a Universidade de Yale, a London
School of Economics, a Unicamp, a Universidade de Cambridge, a PUC-SP e a
PUC-Rio se reuniram para redigir o texto. Segundo eles, a
presidente mente ao se dirigir ao grande público: "Ao usar de sua
propaganda eleitoral e exposição na mídia para colocar a culpa pelo
fraco desempenho econômico recente na conjuntura internacional, se
eximindo da sua responsabilidade por escolhas equivocadas de políticas
econômicas, o atual governo recorre a argumentos falaciosos", diz o
texto.
Segundo Eduardo Zilberman, da PUC-Rio, a ideia foi escrever um
documento apartidário e técnico, justamente para conseguir a adesão de
economistas de diversas vertentes ideológicas. "Nossa intenção
era mostrar um parecer mais técnico. O fato de conseguirmos tantas
assinaturas de um grupo tão heterogêneo reflete isso", afirma. Entre os
que endossam o manifesto estão dois economistas ligados à campanha de
Marina Silva: Marco Bonomo e Tiago Cavalcanti. Há também o economista
Marcelo Medeiros, que, além de acadêmico, trabalha no Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e é o autor do estudo que mostra que a desigualdade no Brasil estagnou no governo Dilma.
Trata-se da terceira vez que economistas se reúnem em manifesto em pouco mais de um mês. A primeira ocorreu em meados de setembro,
quando reportagem de VEJA revelou que o Banco Central havia processado o
economista Alexandre Schwartsman por discordar de suas críticas ao
órgão. A segunda ocorreu logo após o primeiro turno, quando economistas
assinaram um documento pedindo pelo apoio de Marina Silva ao tucano
Aécio Neves.
No seio do PT, também houve um manifesto. A militância conseguiu, com
grande esforço, coletar uma lista de onze nomes encabeçada por Maria da
Conceição Tavares, que adotou com desfaçatez o slogan da campanha
petista "O Brasil não pode parar" para veicular um texto de apoio à
candidatura de Dilma Rousseff. O documento, que mais parece uma peça
publicitária escrita pelo marqueteiro João Santana, tamanho alinhamento
retórico com o texto discursado por Dilma em sua campanha, afirma que as
conquistas econômicas são mérito do atual governo e que a "crise" não
pode servir de argumento "para um retorno às políticas econômicas do
passado". Outros dois nomes que endossam o texto são Luiz Gonzaga
Belluzzo e Nelson Barbosa. O primeiro é conselheiro econômico de Dilma. O
segundo foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e
tem operado junto ao PT para ser indicado ao cargo de Ministro , caso
Dilma se reeleja.
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