No ar por 14 anos como a amável Dona Nenê, de “A Grande Família”,
seu “personagem número um em absoluto”, como ela mesma o define, e nos
palcos há quase 50, Marieta Severo é referência na nossa dramaturgia. A
atriz, que completa 68 anos neste domingo, revelou, em entrevista ao
Glamurama, que a única coisa que a preocupa no processo de
envelhecimento é a deficiência física. “Claro que as rugas me preocupam.
Mas me preocupo mais com a minha cabeça, com meus neurônios e com meu
estômago”.
Marieta, que já foi casada com Chico Buarque, por 33 anos, é hoje
muito feliz ocupando a posição de namorada do diretor teatral Aderbal
Freire Filho, com quem está desde 2004: “O amor também se torna muito
mais sábio”, analisa. A atriz elegeu ainda seus personagens mais
marcantes, falou sobre a violência dessas eleições e declarou sua paixão
pelo teatro: “O teatro é o meu celeiro. É onde eu me revigoro, onde eu
tenho o meu tamanho. O resto é o tamanho que me colocam”. Marieta está
atualmente em cartaz com a desconcertante peça “Incêndios”, em São Paulo.
Por Denise Meira do Amaral
Glamurama – Como você lida com o amadurecimento? Como tem sido esse processo?
Marieta Severo - Você ganha muito com o amadurecimento. A idade te dá
um olhar mais humano, mais generoso, ela vai apurando seu olhar para o
outro. Tem também uma coisa muito legal que é aprender a dizer não sem
culpas. Eu não sabia. Hoje eu me esqueço com uma honestidade muito
profunda. Você vai ficando seletiva com a sua companhia, com as coisas
que você quer, com o que te faz bem. Você para de cumprir tanto.
Glamurama - E a parte ruim?
Marieta Severo - O limite físico. Isso é uma chatice. Sempre fui uma
pessoa com muita energia, mais que o normal. Não consigo mais fazer as
500 coisas que eu fazia antes. Minhas filhas sempre me dizem: ‘mas
mamãe, ninguém faz 5oo coisas. A gente não aguenta fazer 500 coisas’.
Agora eu não consigo. Preciso descansar, ficar mais quieta. A decadência
física é muito chata. Não é a ruga no rosto que me incomoda. É você não
poder mais tomar um vinho, comer um filé com molho e batata frita à
meia noite impunemente. Essa limitação é na verdade uma sabedoria da
natureza. Porque é pra você ir se despedindo da vida. É a morte te
provando que você já viveu e está te preparando. É uma sabedoria muito
chata (risos). Não gosto. Isso me preocupa mais que as rugas. Claro que
as rugas também me preocupam. Mas me preocupo mais com a minha cabeça,
com meus neurônios e com meu estômago.
Glamurama - E o amor? Como ele é nessa fase? Ele também muda?
Marieta Severo - O amor também se torna muito mais sábio. Você ter um
amor na maturidade é um presente muito grande da vida. Eu não sou
casada [com o Aderbal Freire Filho], somos namorados. Cada um tem a sua
casa. Cada um com as suas manias no seu canto. Tenho uma família muito
grande, então é bom esse espaço que ele me dá. Mas também acho que o
casamento é muito bom. Tive cada coisa no tempo certo. Gosto também de
compartilhar. Casamento é muito saboroso, e é o melhor jeito para se
criar os filhos. Sou a favor das duas coisas. Sou a favor de qualquer
forma de amor, tudo vale a pena.O maior compromisso que temos com a vida
é buscar a felicidade.
Glamurama - Mesmo com grande sucesso na TV, você nunca abandonou o teatro. Ele é realmente a sua base?
Marieta Severo – Eu nunca deixei de fazer teatro. Tanto é a minha
base que eu montei com a Andréa Beltrão dois teatros no Rio [o Teatro
Poeira e o Poeirinha], que vivem de nós duas e se alimentam
financeiramente de nós duas, e do Aderbal, que é curador. Tenho certeza
de que o teatro é o meu celeiro. É onde eu me revigoro, onde eu tenho o
meu tamanho. O resto é o tamanho que me colocam. No teatro eu tenho o
meu. Sei que tem atores excelentes que só fazem TV ou que fazem só
cinema e que são respeitados. Mas eu acho que o ator perde se ele não
passa pelo teatro. É uma experiência única. É onde você está com o corpo
inteiro, onde você crava o seu ouro.
Glamurama - O que você assiste na televisão?
Marieta Severo – Sou muito viciada em noticiários. Fico ligada na
Globo News direto. Também vejo novelas. Nunca acompanhei a trajetória,
não sou noveleira, mas eu sempre sei o que está acontecendo. Se eu sei
que tem alguém fazendo um trabalho bacana, eu vou atrás. Vejo como
informação para mim. Tenho prazer de ver meus colegas. Estou também
agora começando a ver seriados. Vi “Breaking Bad” inteirinho. Não se
falava de outra coisa, então eu disse: estou muito analfabeta, preciso
conhecer. Comecei a ver e me apaixonei. Os seriados estão com uma
qualidade impressionante.
Glamurama - Por que tivemos tantas manifestações de ódio nessas eleições?
Marieta Severo - Acho que essas manifestações de ódio estão existindo
muito, mas em tudo. As eleições colocaram isso em evidência. O jogo de
futebol, por exemplo. Antes não existia essa pancadaria. Não existia
alguém morrer no estádio. Acho que existe basicamente uma vontade de
impor a vontade de cada um em tudo, que se manifesta nas eleições, no
homossexual que é espancado. O que eu adoro em “Incêndios” é que a gente
fala muito da violência. Que violência é essa, latente, que a qualquer
momento se manifesta?
Glamurama - E de onde vem essa necessidade de impor a verdade sobre o outro?
Marieta Severo - Acho que de certa forma sempre existiu no ser
humano. O ser humano tem a tendência de colocar a sua verdade e a não
ouvir a do outro. Mas ela se manifestar de forma violência como essa é
que a gente precisa se perguntar por quê.
Abaixo, confira os sete personagens mais marcantes da carreira de Marieta, escolhidos pela própria!
1- Marieta como Dona Nenê, em "A Grande Família", de 2001 a
2014: “A Dona Nenê é o meu personagem absoluto, que me invadiu de uma
forma que nenhum outro me invadiu. Ela é avassaladora e acabou se
tornando parte da minha família, por 14 anos”
Créditos: Divulgação/TV Globo
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