SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou
nesta sexta-feira uma redução no papel que os bancos públicos vêm
desempenhando na política econômica e afirmou que os cortes de despesas em estudo pelo governo deve envolver a redução de subsídios financeiros.
Falando a jornalistas depois de fazer uma apresentação em evento em São
Paulo, Mantega citou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) como um exemplo de onde poderia ocorrer essa redução.
O BNDES tem uma série de programas de financiamento com juros abaixo da
taxa básica de juros (Selic), incluindo a Taxa de Juros de Longo Prazo
(TJLP), e tem recebido injeções de recursos do Tesouro Nacional.
Maior participação dos bancos públicos deveu-se à crise, diz ministro
O ministro disse que o papel dos bancos públicos no crédito é
"fundamentalmente" uma medida contra a crise. Ele lembrou que, na fase
mais aguda da crise financeira internacional, o crédito privado secou e
foi preciso que os bancos públicos assumissem um protagonismo.
Mantega ressaltou, no entanto, que espera que a partir de um novo ciclo
de crescimento os bancos privados liberem mais crédito e os públicos não
precisem ser tão ativos nessa área.
Ele insistiu que não é uma
estratégia do governo uma maior participação dos bancos públicos no
crédito, e sim uma questão de política anticíclica.
Governo precisa rever meta fiscal e cortar gastos
Os comentários do ministro ocorrem em um quadro de profunda
deterioração das contas públicas, com deficit primário recorde em
setembro.
O governo precisa revisar sua meta de superavit
primário (economia para pagar os juros da dívida) para este ano e deve
fazer o mesmo para 2015.
Mesmo assim, serão necessários cortes de despesas para equilibrar as contas.
Mantega: para o país crescer precisa de ajuste fiscal e monetário
Em sua apresentação, o ministro disse que o desafio agora é "fazer a
transição para a economia pós-políticas anticíclicas", em preparação
para um novo ciclo de expansão da economia mundial e brasileira.
"A estratégia macroeconômica para iniciarmos esse novo ciclo de
expansão é um ajuste tanto da política fiscal quanto da política
monetária", disse.
"Do ponto de vista da política fiscal, temos
que caminhar para um aumento gradual do [superavit] primário, em relação
ao resultado de 2014", acrescentou. "Para isso nós temos agora que
fazer uma redução das despesas, uma redução importante das despesas."
Mantega disse que também é preciso recuperar a receita e lembrou que
com uma recuperação da atividade econômica, cujas condições "estão
dadas" segundo ele, isso ocorrerá naturalmente.
Objetivo é inflação de 4,5%
Do lado da política monetária, o ministro disse que o objetivo é "uma
convergência ao centro da meta" da inflação, de 4,5%, apontando a seca
deste ano como uma fator de pressão sobre os preços dos alimentos e as
tarifas de energia.
Perguntado sobre o impacto na inflação do
aumento dos combustíveis anunciado pela Petrobras na noite de
quinta-feira, Mantega disse ele deve ficar ao redor de 0,1 ponto
percentual.
(Reportagem de Asher Levine; Texto de Alexandre Caverni)
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