07 novembro, 2014

Corte de gastos do governo deve atingir bancos públicos e BNDES, diz Mantega

SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou nesta sexta-feira uma redução no papel que os bancos públicos vêm desempenhando na política econômica e afirmou que os cortes de despesas em estudo pelo governo deve envolver a redução de subsídios financeiros.

Falando a jornalistas depois de fazer uma apresentação em evento em São Paulo, Mantega citou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como um exemplo de onde poderia ocorrer essa redução.

O BNDES tem uma série de programas de financiamento com juros abaixo da taxa básica de juros (Selic), incluindo a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), e tem recebido injeções de recursos do Tesouro Nacional.

Maior participação dos bancos públicos deveu-se à crise, diz ministro

O ministro disse que o papel dos bancos públicos no crédito é "fundamentalmente" uma medida contra a crise. Ele lembrou que, na fase mais aguda da crise financeira internacional, o crédito privado secou e foi preciso que os bancos públicos assumissem um protagonismo.

Mantega ressaltou, no entanto, que espera que a partir de um novo ciclo de crescimento os bancos privados liberem mais crédito e os públicos não precisem ser tão ativos nessa área.
Ele insistiu que não é uma estratégia do governo uma maior participação dos bancos públicos no crédito, e sim uma questão de política anticíclica.

Governo precisa rever meta fiscal e cortar gastos

Os comentários do ministro ocorrem em um quadro de profunda deterioração das contas públicas, com deficit primário recorde em setembro.

O governo precisa revisar sua meta de superavit primário (economia para pagar os juros da dívida) para este ano e deve fazer o mesmo para 2015.

Mesmo assim, serão necessários cortes de despesas para equilibrar as contas.

Mantega: para o país crescer precisa de ajuste fiscal e monetário

Em sua apresentação, o ministro disse que o desafio agora é "fazer a transição para a economia pós-políticas anticíclicas", em preparação para um novo ciclo de expansão da economia mundial e brasileira.

"A estratégia macroeconômica para iniciarmos esse novo ciclo de expansão é um ajuste tanto da política fiscal quanto da política monetária", disse.

"Do ponto de vista da política fiscal, temos que caminhar para um aumento gradual do [superavit] primário, em relação ao resultado de 2014", acrescentou. "Para isso nós temos agora que fazer uma redução das despesas, uma redução importante das despesas."
Mantega disse que também é preciso recuperar a receita e lembrou que com uma recuperação da atividade econômica, cujas condições "estão dadas" segundo ele, isso ocorrerá naturalmente.

Objetivo é inflação de 4,5%

Do lado da política monetária, o ministro disse que o objetivo é "uma convergência ao centro da meta" da inflação, de 4,5%, apontando a seca deste ano como uma fator de pressão sobre os preços dos alimentos e as tarifas de energia.

Perguntado sobre o impacto na inflação do aumento dos combustíveis anunciado pela Petrobras na noite de quinta-feira, Mantega disse ele deve ficar ao redor de 0,1 ponto percentual.
(Reportagem de Asher Levine; Texto de Alexandre Caverni)
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