12 novembro, 2014

Editorial: Paradoxo da Petrobras

Se dependesse apenas dos políticos brasileiros, dificilmente as investigações sobre corrupção na Petrobras seriam conduzidas com a seriedade que o assunto merece. 
 
Envolvendo inúmeros congressistas, governadores e ex-ministros, além de grandes financiadoras de campanhas, o esquema de desvios na estatal encontrava sua blindagem na força dos interesses a que servia. Em vez de encorajar apurações profundas, a própria dimensão do caso parecia constituir o maior obstáculo a sua elucidação. 

O paradoxo começou a ser desfeito pelos acordos de delação premiada. Enquanto oposição e base governista insistem no teatro mambembe das comissões parlamentares de inquérito –criadas antes para dar satisfação ao público do que para esclarecer alguma coisa–, dois personagens centrais decidiram contar à Justiça o que sabem. 

Em troca de penas mais brandas, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e o doleiro Alberto Youssef descreveram o processo de pilhagem. 

Destinavam-se a PT, PP e PMDB o equivalente a 3% de negociações feitas pela estatal. Se políticos e funcionários da companhia se locupletavam de propinas, as empresas privadas que participavam dessa engrenagem corrompida assinavam contratos suculentos com a Petrobras. Todos ganhavam. 

Uma vez tornado público o esquema, no entanto, muitos descobriram o quanto tinham a perder –a começar do governo Dilma Rousseff (PT), que, além de se preocupar com o estrago que o caso possa fazer em suas entranhas, teme possíveis prejuízos à imagem da maior estatal brasileira. 

Segundo publicou o jornal inglês "Financial Times", as negociatas da Petrobras estão sendo investigadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pela SEC (Securities and Exchange Commission, principal agência reguladora do mercado de capitais americano). 

As autoridades daquele país apuram eventual violação a uma lei americana de combate à corrupção praticada no exterior ou por empresas que, como a Petrobras, tenham ações negociadas nas Bolsas de Valores dos EUA. 

O Planalto calcula com razão que, a depender do que for descoberto por esses órgãos, poderá ser grande o impacto negativo nos negócios e investimentos da estatal com parceiros estrangeiros. 

Nesse cenário, o expurgo da Petrobras não poderá, passe o trocadilho, ser apenas para inglês ver. As explicações a respeito do caso e as ações adotadas a fim de corrigir desvios precisarão convencer agentes internacionais para os quais pouco importam os interesses dos políticos brasileiros. 


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