Se dependesse apenas dos políticos brasileiros, dificilmente as
investigações sobre corrupção na Petrobras seriam conduzidas com a
seriedade que o assunto merece.
Envolvendo inúmeros congressistas, governadores e ex-ministros, além de
grandes financiadoras de campanhas, o esquema de desvios na estatal
encontrava sua blindagem na força dos interesses a que servia. Em vez de
encorajar apurações profundas, a própria dimensão do caso parecia
constituir o maior obstáculo a sua elucidação.
O paradoxo começou a ser desfeito pelos acordos de delação premiada.
Enquanto oposição e base governista insistem no teatro mambembe das
comissões parlamentares de inquérito –criadas antes para dar satisfação
ao público do que para esclarecer alguma coisa–, dois personagens
centrais decidiram contar à Justiça o que sabem.
Em troca de penas mais brandas, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras, e o doleiro Alberto Youssef descreveram o
processo de pilhagem.
Destinavam-se a PT, PP e PMDB o equivalente a 3% de negociações feitas
pela estatal. Se políticos e funcionários da companhia se locupletavam
de propinas, as empresas privadas que participavam dessa engrenagem
corrompida assinavam contratos suculentos com a Petrobras. Todos
ganhavam.
Uma vez tornado público o esquema, no entanto, muitos descobriram o
quanto tinham a perder –a começar do governo Dilma Rousseff (PT), que,
além de se preocupar com o estrago que o caso possa fazer em suas
entranhas, teme possíveis prejuízos à imagem da maior estatal
brasileira.
Segundo publicou o jornal inglês "Financial Times", as negociatas da
Petrobras estão sendo investigadas pelo Departamento de Justiça dos
Estados Unidos e pela SEC (Securities and Exchange Commission, principal
agência reguladora do mercado de capitais americano).
As autoridades daquele país apuram eventual violação a uma lei americana
de combate à corrupção praticada no exterior ou por empresas que, como a
Petrobras, tenham ações negociadas nas Bolsas de Valores dos EUA.
O Planalto calcula com razão que, a depender do que for descoberto por
esses órgãos, poderá ser grande o impacto negativo nos negócios e
investimentos da estatal com parceiros estrangeiros.
Nesse cenário, o expurgo da Petrobras não poderá, passe o trocadilho,
ser apenas para inglês ver. As explicações a respeito do caso e as ações
adotadas a fim de corrigir desvios precisarão convencer agentes
internacionais para os quais pouco importam os interesses dos políticos
brasileiros.
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