Deixe de lado a semente de chia, o whey protein e o óleo de coco. No
novo guia nutricional do governo, o que vai para o prato, e é sinônimo
de alimentação saudável e nutritiva, é o arroz, feijão, legumes e
verduras.
O documento prioriza o consumo de alimentos in natura ou minimamente
processados, e atualiza recomendações do Ministério da Saúde sobre o que
deve ser levado à mesa. O último guia havia sido elaborado em 2006.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Não estamos propondo um regime ou tratamento. A gente está pensando
numa alimentação para prevenir problemas", afirma Carlos Monteiro,
professor da USP e coordenador de equipe técnica que elaborou o guia.
O texto é ilustrado com combinações saudáveis para as refeições do dia a
dia e serve de referência para escolas e profissionais de saúde, por
exemplo.
A intenção é reforçar a importância do consumo de alimentos em
detrimento de produtos. "A barra de cereal é uma reengenharia de
alimentos, não há garantia de que funcione da mesma maneira que os
alimentos originais", exemplifica Monteiro.
O ministro Arthur Chioro (Saúde) destaca que, se antes o que prevalecia
era o tamanho das porções, agora a abordagem é "mais qualitativa". "Não
estamos proibindo nada. Ninguém está dizendo 'não use sal, tire o
açúcar'", disse à Folha.
Para o nutrólogo Celso Cukier, o importante é tirar os alimentos
ultraprocessados do cotidiano, limitando-os a momentos eventuais. "Na
medida do possível, temos que buscar essa substituição", diz ele, médico
do Hospital São Luiz e presidente do Instituto de Metabolismo e
Nutrição.
As sugestões do guia não se limitam ao tipo de alimento a ser consumido,
mas também à forma como o consumo acontece. Esse viés ganhou destaque
diante do perfil atual da população: um em cada dois adultos têm excesso
de peso no país.
Mudar essa realidade requer também hábitos saudáveis, como comer em
companhia de familiares ou colegas de trabalho e evitar ambientes onde
"haja estímulos para o consumo de quantidades ilimitadas de alimentos".
"Refeições feitas em companhia evitam que se coma rapidamente", afirma
trecho do guia. "Compartilhar com outra pessoa o prazer que sentimos
quando apreciamos uma receita favorita redobra este prazer."
O modelo de recomendações e alimentos sugeridos pelo texto é elogiado
pelo americano Nicholas Freudenberg, professor de saúde pública da
Universidade da Cidade de Nova York e autor de livro sobre o assunto.
Para ele, guias, que, ao contrário do modelo brasileiro, são baseados em
quantidades de consumo adequado de açúcar, sal ou gordura, por exemplo,
favorecem a indústria de alimentos.
"Isso permite [à indústria] manipular alguns ingredientes para fazer os
produtos parecerem mais saudáveis, como por exemplo adicionando
vitaminas a cereais com alto índice de açúcar", diz.
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