Michael Wolf/Wikimedia Commons | ||
A planta Piper cubeba, ou pimenta-de-java, usada por pesquisadores que procuram um "novo viagra" |
Um grupo de pesquisadores estava testando uma série de moléculas
similares como arma contra o mal de Chagas, doença causada por um
parasita e que pode levar à insuficiência cardíaca.
As substâncias não se revelaram muito eficazes para esse fim, mas alguns
dos ratos usados no estudo, repararam os cientistas, apresentavam uma
potente ereção.
Após estudar melhor o fenômeno, a equipe da Unifran (Universidade de
Franca, no interior paulista) acabou mostrando que uma das substâncias, a
(-)-cubebina –pronuncia-se "menos cubebina"– tinha potencial para ser
usada como medicamento contra a disfunção erétil em seres humanos,
inclusive com vantagens em relação a fármacos que estão no mercado hoje,
como o Viagra (citrato de sildenafila).
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress |
A equipe obteve recentemente a patente do uso da molécula para esse fim
nos Estados Unidos e está negociando testes mais detalhados dela com
representantes da indústria farmacêutica, afirma o coordenador do
estudo, o farmacêutico Márcio Luís Andrade e Silva.
"Esperamos fechar isso o mais rápido possível. Podemos ter excelentes
notícias em breve, mas a negociação ainda é confidencial", diz ele.
TEMPERO DO ORIENTE
A molécula, como indica seu nome, foi obtida a partir da cubeba ou pimenta-de-java (Piper cubeba), nativa da Indonésia, tradicionalmente usada como condimento ou para fins medicinais.
Segundo Andrade e Silva, a equipe passou a fazer modificações na
estrutura molecular dos derivados da cubeba, testando essas substâncias
também contra doenças como esquistossomose ou como anti-inflamatório.
Após verificar o curioso efeito nos ratos, a equipe passou a fazer
exames mais detalhados do fenômeno, inclusive analisando o que acontecia
com o corpo cavernoso do pênis dos animais –a parte do órgão que, ao
receber maior irrigação sanguínea, é a principal responsável por
mantê-lo ereto (veja o quadro acima).
"Comparamos a ação da (-)-cubebina com a do princípio ativo do Viagra e
verificamos que ela é 50% mais potente", diz o farmacêutico da Unifran.
Trocando em miúdos, a molécula derivada da planta enche o pênis com
sangue de modo mais eficiente, deixando-o mais túrgido ("cheio"), como
dizem os especialistas.
Essas análises mais detalhadas também mostraram que a substância atua
inibindo uma enzima (molécula que acelera reações bioquímicas), a
fosfodiesterase-5, que mantém o pênis em seu estado flácido. Essa enzima
também é o alvo de remédios contra disfunção erétil existentes hoje.
Andrade e Silva afirma que a maior potência da molécula não
necessariamente indica que seu efeito seria mais doloroso ou difícil de
reverter. "Tudo isso é uma questão de formulação e dosagem, algo que
podemos ajustar conforme os estudos avançam", pondera.
Para que a substância se torne a base de um novo produto, serão
necessários mais testes em animais e ao menos três baterias diferentes
de ensaios clínicos com pacientes humanos, o que deve exigir vários anos
de estudos.
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