13.Nov.15 - 20:00
| Atualizado em 14.Nov.15 - 06:59
Como o ex-titular da Previdência aparelhou os fundos de pensão para montar, segundo a CPI, uma máquina de arrecadar dinheiro para o PT
Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br)
Ao se debruçar
sobre as indicações do PT para cargos estratégicos nos fundos de pensão,
a CPI responsável por investigar o tema no Congresso puxou o fio de um
intrincado novelo e alcançou um personagem mais conhecido em Brasília
por oferecer a garupa de sua moto Harley Davidson vermelha para a
presidente Dilma Rousseff, nas horas vagas, do que pelo zelo no manejo
do dinheiro público. Trata-se do ex-ministro da Previdência, Carlos
Gabas, atual secretário especial da pasta. Um organograma sigiloso, ao
qual ISTOÉ teve acesso, em poder da CPI desde a semana passada, mostra
como Gabas aparelhou a Previc (Superintendência Nacional de Previdência
Complementar) com pessoas de sua estrita confiança de modo a exercer
ascendência sobre os principais fundos de pensão do País e a gerir
negócios ao sabor dos interesses do PT. De tão extensa, a teia tecida
pelo ex-ministro acabou entrelaçada aos esquemas investigados pela Lava
Jato.
VELOZ
O atual secretário especial da Previdência, ex-ministro Carlos Gabas,
controla a Previc, a partir da qual exerce ascendência sobre os
demais fundos de pensão do País
O atual secretário especial da Previdência, ex-ministro Carlos Gabas,
controla a Previc, a partir da qual exerce ascendência sobre os
demais fundos de pensão do País
Controlar a Previc é como ter em mãos a
chave de um cofre recheado. O órgão é responsável por regular e
fiscalizar todos os fundos de pensão existentes no Brasil. Significa que
quem comandá-lo pode realizar intervenções e autuações nas fundações
conforme sua conveniência. Para se ter uma ideia do peso dessa arca de
dinheiro, o total de ativos dos fundos de pensão somou R$ 733 bilhões no
primeiro semestre deste ano. Por isso, manter a Previ sob sua batuta
representou o pulo do gato para o motoqueiro Gabas e para o PT.
A partir da nomeação, em junho de 2014, de
Carlos De Paula como diretor Superintendente da Previc, o então ministro
da Previdência conferiu capilaridade ao esquema – mantido até os dias
atuais, segundo apurações preliminares da CPI. Seguindo orientações do
chefe e companheiro de passeios de moto pelas largas avenidas da capital
federal, De Paula avançou em novembro do ano passado sobre a Petros,
fundo de pensão da Petrobras, ao indicar como interventor Walter de
Carvalho Parente.
Para consumar a intervenção, no momento em que a
Petros amargava uma de suas mais graves crises internas, como
conseqüência das denúncias do doleiro Alberto Youssef, o superintendente
da Previc obteve o aval da Anapar (Associação Nacional dos
Participantes dos Fundos de Pensão), cujo vice-presidente José Henrique
Sosseron é aliado de Gabas desde os tempos do sindicato dos bancários.
Com o fim do processo de intervenção, uma nova direção foi empossada na
Petros. Ascendeu à estratégica diretoria de Finanças e Investimentos da
Petros, Lício da Costa, uma indicação da presidente do INSS, a petista
Elisete Berchiol, chancelada por Gabas. A partir daí, o esquema se
interliga a Lava Jato. Lício da Costa era diretor da empresa VIS
Investimentos e tinha como sócios Alexandre Romano, ex-vereador do PT de
Americana, conhecido como Chambinho, hoje preso em Curitiba, Eduardo
Evangelista, parceiro do petista no escritório de advocacia Oliveira
Romano Associados, e Thais Brescia, alçada a gerente de crédito privado
da Petros.
Como já é público, o lobista Milton
Pascowitch, um dos delatores da Lava Jato, denunciou ao MP uma operação
destinada a desviar mais de R$ 50 milhões em contratos com o Ministério
do Planejamento, envolvendo Alexandre Romano e a empresa Consist
Software, especializada na implantação de um sistema de desconto em
folha de empréstimos consignado para servidores federais. Romano, em
depoimento, admitiu que dividia propinas com o ex-ministro Paulo
Bernardo e com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, entre 2010 e 2012.
Depois de 2012, ainda segundo Romano, Gabas também passou a se
beneficiar dos desvios. O que Romano ainda não reconheceu é que o
sistema de arrecadação para o PT, por meio dos empréstimos consignados
operados pela Consist, era insuficiente para atender todos os interesses
do partido. Por isso, foi necessário captar recursos através de um
esquema paralelo capitaneado pelos integrantes da VIS Investimentos: o
próprio Romano e Eduardo Evangelista, seu sócio no escritório de
advocacia Oliveira Romano Associados. Essa informação, até agora
sonegada por Chambinho, consta da delação de Milton Pascowitch.
Como funcionaria o esquema, segundo
integrantes da CPI dos Fundos de Pensão? Num cenário de superávit, a
Petros teria condições de negociar em cada empréstimo ou investimento
realizado um deságio vantajoso para a entidade. Não era o caso, pois as
operações do fundo de pensão dos servidores da Petrobras davam prejuízo.
Por isso, a orientação interna, após a intervenção comandada por Gabas e
De Paula, era que fossem feitas verificações de carteiras de títulos do
fundo com recebimentos duvidosos, promovendo a troca de seus gestores.
Em geral, os diretores da Petros indicados por Gabas, ao avaliar os
créditos, concluíam que só podiam recuperar 50% deles, quando em muitos
casos, segundo a CPI, a porcentagem passível de recuperação era maior.
“Mas isso não interessava ao esquema, pois dessa forma eles tinham
poderes de negociar uma taxa de sucesso maior. Quando o gestor informa
que ele recuperou 80% em vez dos 50%, ele ganha uma taxa de sucesso
entre 10% e 20% do total arrecadado”, afirmou um dos denunciantes à
CPI. Quem realizava toda essa operação era o escritório de advocacia
Oliveira Romano Associados da dupla Alexandre Romano e Evangelista,
especializado em recuperação de créditos e contratado como terceirizado.
Só na Petros, a carteira de crédito, gerenciada hoje por Brescia,
ex-sócia da VIS Investimentos, portanto ex-sócia de Chambinho, soma
cerca de R$ 3 bilhões. O círculo se fecha. Para integrantes da CPI, o
modo de operar se repetiria atualmente na Serpros, fundo de pensão da
Serpro – estatal responsável pelo processamento de dados do governo,
dona de um patrimônio de R$ 4,7 bilhões e alvo de intervenção da mesma
Previc em maio deste ano. Desconfia-se na CPI que a intenção do PT, ao
controlar o Serpro, é o de implantar um modelo de terceirização com a
Consist, que passaria a ser responsável pelo sistema de desconto em
folha de empréstimo consignado de todo o funcionalismo público.
Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
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