A presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment, o ex-presidente Lula
acaba de virar réu pela segunda vez, o cérebro político petista José
Dirceu foi duplamente condenado, o eterno assessor econômico Guido
Mantega está enrolado na Zelotes e foi preso (depois solto) ontem na
Lava Jato. Ficou faltando alguém? Sim, falta Antônio Palocci.
23 Setembro 2016 | 03h00
A era Lula acabou caminhando para o desastre com Dilma, mas
foi sedimentada em cima do tripé Dirceu, Mantega e Palocci, o cordato, o
bonachão, o que assumiu o “neoliberalismo tucano”, o queridinho do
mundo empresarial e financeiro, que conseguiu a proeza de desabar não
uma, mas duas vezes: da Fazenda de Lula e depois da Casa Civil de Dilma.
Mas jamais deixou de frequentar as reuniões da alta cúpula lulista.
No castelo de cartas do PT, já caíram dois presidentes da
República, dois presidentes do partidos e quantos tesoureiros mesmo?
Três? Quatro? Mas o escorregadio Palocci parece que sabe fazer as coisas
direitinho.
A repórter Andreza Matais ganhou o Prêmio Esso de jornalismo por
descobrir que ele usou R$ 7 milhões, em espécie!, para comprar um
apartamentão na Avenida Paulista que, ora, ora, não tinha dono nem placa
na porta. Até hoje, anos depois, nunca se soube de onde veio e de quem
era o dinheiro. Palocci saiu do governo, mas manteve as graças de Lula.
Como tudo isso foi pré-delações premiadas, ele não abriu o bico e ficou
por isso mesmo.
Mas voltemos a Guido Mantega. A barbeiragem grosseira da Polícia
Federal, que chamou Mantega quando ele estava no centro cirúrgico onde
sua mulher se operava, deu munição aos petistas e adversários do juiz
Sérgio Moro e da Lava Jato, principalmente na trincheira da internet.
Moro, alegando que ele, o MP e a PF não sabiam da circunstância, voltou
atrás e mandou liberar o ex-ministro.
Apesar de tudo isso, o fato é que não tem nada de trivial um
ministro da Fazenda ser acusado de pedir milhões para um megaempresário,
ou para quem quer que seja, e isso piora muito quando se sabe que
Mantega era também presidente do Conselho de Administração da Petrobrás e
Eike Batista tinha negócios bilionários com a companhia.
A operação, segundo a força-tarefa, era circular: o dinheiro saía
da Petrobrás, passava pelas empresas e voava para contas de
marqueteiros da campanha petista no exterior, quando não para contas e
bolsos de gente de dentro e de fora do governo e da estatal.
O detalhe é que o pedido relatado por Eike Batista foi, ou teria
sido feito em 2012, quando Dilma já era presidente, e para quitar
dívidas da campanha dela em 2010. Logo, Mantega joga a Lava Jato no colo
de Dilma, que já tinha presidido o Conselho de Administração da
Petrobrás durante a nebulosa compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.
Ninguém, nem Dilma, sai bem nessa foto.
Vai-se, assim, cristalizando a percepção de que havia um modus
operandi na era PT: todo mundo pedia propina e todo mundo dava propina,
num círculo vicioso sem fim. Dirceu no Planalto, Mantega na Fazenda,
Palocci nos dois, Paulo Bernardo no Planejamento... Nem mesmo os setores
comandados (e “operados”) pelos parceiros escapavam – como o Ministério
de Minas e Energia, bunker do PMDB, dos Sarney e de Edison Lobão.
Fica difícil, num quadro borrado assim, pintar um futuro róseo
para o PT, que já foi o maior partido de massas, o único detentor da
ética, o Robin Hood contra a miséria. Faltam-lhe as tintas: discurso,
horizonte e principalmente líderes.
Se Lula denuncia Sérgio Moro ao mundo e pretende interditá-lo
como seu juiz, deve se preparar para fazer o mesmo com vários outros
juízes, procuradores, delegados da PF e auditores da Receita. Para
tentar se salvar e salvar o PT, Lula precisa interditar as instituições
do País, talvez interditar o País inteiro.
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