Relatório da Receita Federal, anexado ao inquérito da Operação Custo
Brasil – desmembramento da Lava Jato -, mostra uma ligação entre a Focal
Confecções e Comunicação Visual, segunda maior fornecedora da campanha à
reeleição de Dilma Rousseff (PT), e um ex-assessor do ex-ministro Paulo
Bernardo(PT), Zeno Minuzzo. A empresa pertence a Carlos Roberto
Cortegoso, investigado por lavagem de dinheiro e caixa 2 para campanhas
do PT.
Zeno Minuzzo é apontado como um dos braços direito de Bernardo no
Paraná. Segundo a Custo Brasil, ele está envolvido no recebimento de R$
362 mil , entre 2010 e 2015, da Consist Software – principal empresa
investigada no esquema de desvios de mais de R$ 100 milhões, nos
contratos de empréstimos consignados de servidores federais, via
Ministério do Planejamento.
No relatório, a Receita levanta suspeita sobre transações de remessa
de materiais de campanha para Minuzzi, em 2014, e indica uma possível
sonegação de informação sobre a prestação de serviço para as campanhas
de Dilma e da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Paulo
Bernardo, que em 2014 concorreu ao governo do Paraná.
De acordo com o documento, “em que pese a existência desses
documentos indicarem a ocorrência de vínculo de trabalho entre Zeno
Minuzzo e as campanhas eleitorais de Dilma Rousseff e Gleisi Hoffman, o
contribuinte não declarou ter auferido qualquer tipo de renda
proveniente das referidas fonte”.
No total, o material registrado como a ser entregue para Minuzzo e
faturados por empresas fornecedoras da campanha de Dilma, que inclui a
Focal, somam R$ 682 mil. Em seu relatório, a Receita informa que os
pagamentos “fazem referência a entrega, a título de simples remessa, de
material de campanha eleitoral da Presidente Dilma Roussef” e ao “envio
de 1.000 botons com referência a Gleisi, possivelmente a Senadora Gleisi
Hoffman cuja candidatura a governadora pelo estado do Paraná aconteceu
em 2014″.
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Focal aparece como uma das
fornecedoras da campanha de Gleisi Hoffmann, com 16 pagamentos que
totalizam R$ 163 mil.
‘Garçom do Lula’
A Custo Brasil investiga lavagem de dinheiro e sonegação fiscal em negócios de Cortegoso. O Estadão
revelou neste domingo. 9, que relatório da Receita Federal repassado à
Polícia Federal e ao Ministério Público Federal revela que, entre 2010 e
2014, uma das empresas de Carlos Roberto Cortegoso, a CRLS Consultoria e
Eventos, movimentou quase R$ 50 milhões, de créditos e débitos, um
quinto do valor declarado de receita bruta no período.
Os investigadores suspeitam de contabilidade “atípica” e caixa 2 com
recursos provenientes do PT e de esquemas de propinas na Petrobrás e no
Ministério do Planejamento. “A CRLS, segundo a Receita Federal,
movimentou em suas contas cerca de R$ 25 milhões de entrada (crédito) e
R$ 24 milhões de saída, mas declarou receita bruta de menos de R$ 10
milhões”, afirmam procuradores da República da Custo Brasil.
Cortegoso é o dono da CRLS e da Focal, que recebeu R$ 25 milhões na
última campanha de Dilma e ficou atrás apenas do publicitário João
Santana (R$ 70 milhões), preso preventivamente, em Curitiba, na Lava
Jato. Ambas ficam em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
Embora a CRLS não conste da prestação de contas da campanha de Dilma,
a empresa atuou por intermédio da Focal. Investigadores da Custo Brasil
e da Lava Jato verificaram que as duas empresas integram um mesmo
negócio. Elas compartilham equipamentos e movimentam recursos, mostram
relatórios da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf).
Documento da Custo Brasil sobre contas de Cortegoso e das empresas
registra ocorrências suspeitas como depósitos e saques em espécie “que
apresentam atipicidade em relação à atividade econômica”, “movimentação
de recursos incompatível com o patrimônio” e “movimentação de recursos
de alto valor, de forma contumaz, em benefício de terceiros”.
No fim dos anos 1990, Cortegoso montou uma empresa de produção de
camisetas e material de campanha. Com a chegada do PT ao Palácio do
Planalto, em 2003, o negócio cresceu rapidamente e ele virou o principal
fornecedor do partido. Desde a disputa de reeleição de Luiz Inácio Lula
da Silva, em 2006, ele virou o principal fornecedor de estruturas de
palanques e materiais de campanha, como faixas, placas e banners. O
empresário é conhecido como “garçom de Lula” por ter trabalhado em
restaurante onde sindicalistas petistas se encontravam.
Em um trabalho conjunto, investigadores da Lava Jato e da Custo
Brasil apuram qual a origem dessas entradas nas contas bancárias e onde
foi parar o dinheiro. A força-tarefa busca provas de que pagamentos de
fornecedores de campanhas do PT serviram para ocultar propinas – um
risco para a campanha de reeleição de Dilma.
A relação da Focal com a campanha de Dilma Rousseff já é alvo de uma
perícia contábil no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em fase final.
Bernardo
O novo personagem das apurações de lavagem e caixa 2 nas campanhas do
PT em 2014 foi apontado pelo ex-vereador do PT Alexandro Romano, o
Chambinho, em sua delação premiada com a Lava Jato e a Custo Brasil. Ele
afirmou à Procuradoria que “Zeno ficaria com 20% do valor repassado
pela Consist” ao ex-ministro Paulo Bernardo. Zeno Minuzzo foi alvo de
busca e apreensão no dia 23, quando o ex-ministro foi preso. Seis dias
depois ele foi liberado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a relatório da Polícia Federal, Minuzzo foi chefe de gabinete
de Paulo Bernardo, quando ele foi deputado federal. Ele aparece como
destinatário de valores relacionados ao advogado Guilherme Gonçalves,
que atuou na campanha de Gleisi. Segundo a Custo Brasil, seu escritório
serviu para escolar os R$ 7 milhões desviados do Ministério do
Planejamento, via Consist, para Bernardo.
O Estado entrou em contato com o PT do Paraná, mas foi informado que Zeno não ocupa cargos nos partido.
COM A PALAVRA, A DEFESA DA SENADORA GLEISI HOFFMANN
Questionada, a senadora Gleisi Hoffman, por meio de sua assessoria,
informou que suas relações com Zeno Minuzzo “são de militância
partidária, já que ele foi dirigente do partido no Paraná e daí o
envolvimento com as campanhas eleitorais”. Ainda de acordo com a
senadora, “os recebimentos de Zeno, se ocorreram e porque ocorreram, só
ele pode explicar. Em relação à empresa Focal, a senadora informou que
“todos os serviços prestados para a campanha em 2014 estão descritos na
prestação de contas, disponível no Tribunal Superior Eleitoral”.
Ainda de acordo com a senadora, “os recebimentos de Zeno, se
ocorreram e porque ocorreram, só ele pode explicar. O ex-assessor de
Paulo Bernardo, Zeno Minuzzo, não foi encontrado para comentar o
relatório.
COM A PALAVRA, A CAMPANHA DE DILMA ROUSSEFF
Por meio do advogado de sua campanha, Flávio Caetano, Dilma Rousseff
(PT) informou que todas as pessoas que prestaram serviços para a
campanha foram devidamente contratadas e esses contratos foram
encaminhadas à Justiça Eleitoral.
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