Ruy Castro
       
       
       
       
       
       
       
RIO DE JANEIRO - Adoro saber que, como já passei dos doze anos, 
não perderei o sono esta noite porque amanhã tenho prova de latim no 
colégio. Ou de matemática. O fato de já não precisar me submeter a 
exames dessas matérias é a certeza de um sono profundo e restaurador. Na
 verdade, livre de tais fantasmas, hoje posso me deliciar com Ovídio ou 
Petrônio e até entender o fascínio de algumas pessoas pelo teorema de 
Pitágoras. 
Mas imagino que, por outros motivos, muita gente venha dormindo mal no 
Brasil: deputados, senadores, ministros, prefeitos, governadores, 
empreiteiros, executivos, tesoureiros de partidos e quem quer que esteja
 na mira da Operação Lava Jato --ameaçados de ver seus nomes divulgados 
como beneficiários do petrolão. Ninguém, não importa a altura do cargo, 
parece a salvo. 
O material em investigação é monumental: planilhas, contratos, balanços,
 documentos, contas bancárias, mensagens cifradas e, não por último, a 
delação premiada. Como boa parte das mutretas envolve negócios da 
Petrobras com o exterior, os americanos também estão vasculhando por 
conta própria, o que garante que, em futuro próximo, haverá quem não 
possa pôr os pés em Miami ou Orlando, para não correr o risco de ir 
preso. 
Impressionado com o alcance e minúcia desse pente-fino, eu próprio andei
 me investigando para descobrir se, sem saber, não me beneficiei com 
presentes e propinas como os que têm sido mimoseados aos sócios da 
corrupção. Por exemplo: nos últimos anos, ganhei relógios, gravatas, 
cortes de tecido, vinhos, uísques? Não, nem uma cesta de Natal. 
Aliás, ganhei gravatas, sim, mas de fonte ilibada. Há algum tempo, a 
jornalista Sonia Nolasco me presenteou com três gravatas de seu falecido
 marido, meu inesquecível amigo Paulo Francis --morto em 1997 pelos 
pecados da Petrobras. 
 

 
 
Prezada Leopoldina:
ResponderExcluirprimeira vez que comento neste blog e é para cumprimentá-la pelo texto colocado. Um belo texto para uma realidade amarga em que todos nós nos encontramos. Quando lemos textos assim, simples, sem firulas, mas que calam fundo em nós, vemos que o mundo (pessoas) se perdeu, ou está em vias de se perder definitivamente.
Um cordial abraço.
Realmente, meu caro, este é um texto saboroso... simples, curto, objetivo e claro. Obrigada e volte logo, um abraço.
ExcluirLeopoldina