Edmar Bacha* - O Estado de S. Paulo
20 Dezembro 2014 | 16h 54
Se o crescimento de 0,3% na produtividade média do trabalho entre 1981 e 2014 não aumentar, o Brasil jamais deixará de ser um país de renda média
Tem sido bastante discutida na
imprensa a “estagnação secular” por que estariam passando os países
desenvolvidos. Menor atenção tem sido dada para o fato de a economia
brasileira estar semiestagnada há 33 anos, apesar de ter uma renda per
capita de apenas um terço da média dos países da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Entre
1981 e 2014, a taxa média de crescimento da produtividade do trabalho
no Brasil foi de apenas 0,3% por ano. A conclusão pouco difere se
excluirmos da conta, por serem períodos excepcionais, a década perdida
de 1981 a 1992 e os anos da bonança externa entre 2004 e 2010: há muito
tempo a produtividade do trabalho cresce a não mais do que 0,4% por
ano.
Com essa taxa minúscula de crescimento da produtividade,
jamais deixaremos de ser um País de renda média, jamais atingiremos a
renda per capita dos países da OCDE.
Crescimento da produtividade requer empresas com tecnologia,
escala, especialização e concorrência. Esses ingredientes somente se
conseguem com a integração do país às correntes internacionais de
comércio. Pois, apesar de o Brasil ser o sétimo maior PIB (Produto
Interno Bruto) do mundo, tem apenas 3,3% do PIB mundial: 96,7 % do
mercado global está fora das fronteiras brasileiras.
Os países que conseguiram entrar no primeiro mundo após a 2.ª
Guerra Mundial o fizeram integrando-se com a economia mundial. Os tigres
asiáticos e Israel se desenvolveram com exportações industriais; os
países da periferia europeia com exportações de serviços inclusive de
mão de obra; Austrália, Noruega e Nova Zelândia com a exportação de
commodities.
Cada grupo a sua maneira, explorando suas respectivas
vantagens comparativas, mas todos com uma característica comum - uma
forte integração ao comércio internacional.
Em contraste, o Brasil é uma das economias mais fechadas ao
comércio exterior do mundo. Grandes economias são grandes exportadoras.
Os seis países com PIB maior do que o Brasil - Estados Unidos, China,
Japão, Alemanha, França e Reino Unido - são também os seis maiores
exportadores mundiais. O Brasil é apenas o vigésimo segundo. Um
gigantinho em termos de PIB, somos um anão em termos de exportações -
apenas 1,3% do total mundial.
O que se observa nas exportações nacionais repete-se nas
importações. A participação das importações no PIB brasileiro é de
apenas 13% (dados de 2012). Trata-se do menor valor entre todos 176
países considerados pelo Banco Mundial. Apenas não podemos dizer que o
Brasil é o país mais fechado do mundo porque não há dados para a Coreia
do Norte - que aparenta ser mais fechada ao comércio do que o Brasil!
Investimento. O curioso é que, sendo fechado
para o comércio, o Brasil é extremamente aberto para o investimento
externo direto. Éramos até há pouco tempo a 4ª destinação mais preferida
pelas multinacionais, atrás somente dos EUA, China e Hong Kong.
O problema é que as multinacionais vêm aqui não para exportar
como o fazem na Ásia, mas para substituir importações aproveitando-se do
mercado interno protegido. Elas lucram com isso, mas a economia como um
todo pode sair perdendo, pois a substituição de importações faz o
câmbio apreciar e, assim, tende a reduzir as exportações do país.
Paradoxalmente, a abertura para o investimento estrangeiro, na forma em
que ela é feita no Brasil, pode estar contribuindo para diminuir o
volume de comércio exterior do país.
A política industrial do governo vai na contramão da
integração do País ao comércio mundial. Tarifas elevadas sobre bens de
produção. Barreiras difíceis de transpor aos serviços importados
complementares à produção industrial.
Ausência de acordos comerciais com os principais parceiros no
primeiro mundo.
Requisitos exagerados de conteúdo local, que aumentam os
custos da indústria.
Preferências excessivas para compras do governo no
mercado local. A lista poderia continuar.
Mas há esperança que essa política de avestruz possa ser
revertida no futuro próximo. A esperança vem de três constatações
incontornáveis.
A primeira é o desempenho econômico pífio no último
quadriênio, em que houve uma diminuição de 2% na produtividade total do
trabalho e do capital. Os “pibinhos” não se deveram à falta de demanda,
pois há pleno emprego. Também não foi por falta de capital, pois o
investimento apesar de baixo esteve dentro da média histórica. O que
houve foi a destruição da produtividade pelas políticas econômicas
introvertidas e intervencionistas do último quadriênio.
Em segundo lugar, corremos o risco de nos isolar ainda mais do
mundo. Além do Acordo do Transpacífico, está em curso a proposta de um
amplo entendimento comercial entre os EUA e a União Europeia. Esses
acordos nos deixarão à margem dos principais mercados mundiais.
Em terceiro lugar, há o escândalo da Petrobrás. À parte de
suas implicações éticas e políticas, esse escândalo desvenda o
extraordinário potencial de corrupção de uma política industrial fundada
no monopólio estatal, na reserva de mercado e nos requisitos exagerados
de conteúdo nacional.
O Brasil está numa encruzilhada. Ou mantemos o protecionismo e
continuamos a retroceder como ocorreu nos últimos quatro anos. Ou nos
integramos ao resto do mundo e contemplamos a possibilidade de nos
tornar um país plenamente desenvolvido.
* Edmar Bacha é sócio fundador e diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças
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