As mudanças feitas pela presidente Dilma Rousseff em seu ministério
deixaram contrariado seu antecessor e padrinho político, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, ao reduzir sua influência no governo e
desalojar alguns de seus fiéis colaboradores.
Aliados do ex-presidente, que governou o país de 2003 a 2010, dizem que
ele considerou excessivo o poder conferido ao ministro da Casa Civil, o
petista Aloizio Mercadante, na nova configuração do governo e na
articulação das mudanças na equipe.
Na avaliação dos lulistas, Mercadante sonha em concorrer à Presidência
nas eleições de 2018 e vale-se de sua proximidade com Dilma para evitar a
ascensão de outros petistas ao centro do poder.
Alan Marques - 18.dez.2014/Folhapress | ||
Dilma e Lula na cerimônia de diplomação para o exercício do segundo mandato da petista |
Aliados de Lula apontam como exemplo a indicação do governador da Bahia,
Jaques Wagner, para o desenxabido Ministério da Defesa. Os lulistas
preferiam que Wagner ocupasse uma posição com maior visibilidade
política.
"Mercadante é o general. Comanda a equipe. E tem que trabalhar com os
coronéis", diz o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, numa
alusão à concentração de poder nas mãos do ministro.
Editoria de Arte/Folhapress |
A equipe que acompanhará Dilma em seu segundo mandato ainda está
incompleta. Com os 13 nomes indicados na terça (23), a presidente já
anunciou 17 dos 39 ministros que tomarão posse com ela na quinta-feira
(1º).
O PMDB ficou com seis ministérios, um a mais do que tem hoje. O PT
perdeu o Ministério da Educação e não terá controle sobre outras áreas
consideradas estratégicas para o futuro do partido, como Cidades e
Transportes.
Aliados de Lula dizem que o único nome que ele fez questão de escalar
foi o do novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, confirmado por
Dilma com o futuro titular da Fazenda, Joaquim Levy, economista de
perfil conservador cuja escolha contrariou o PT.
Lula também sugeriu a mudança do ministro das Relações Institucionais,
Ricardo Berzoini, para as Comunicações. Segundo petistas, foi o próprio
Berzoini que pediu para deixar o Palácio do Planalto, trocando a
articulação política pelas Comunicações.
A saída de Berzoini é certa, mas sua indicação para a nova pasta ainda
não foi confirmada. Com a saída do chefe da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, outro lulista, o ex-presidente ficará
pela primeira vez sem ninguém de sua confiança na cozinha do Planalto.
Em conversas recentes, Lula chegou a reclamar da indefinição sobre o
Ministério do Trabalho, que atualmente é controlado pelo PDT e onde os
petistas querem emplacar o sindicalista José Lopez Feijóo, ligado à CUT
(Central Única dos Trabalhadores).
SOB MEDIDA
Em reunião na noite de terça, Dilma ofereceu o Ministério do Trabalho ao
presidente nacional do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, e apresentou
como alternativa para o partido a Previdência Social, hoje com o PMDB.
Lupi disse que a tendência do PDT é manter o atual ministro do Trabalho,
Manoel Dias, no cargo. "Quando o sujeito senta naquela cadeira, pensa
que é feita sob medida, como sapato", disse Lupi, que foi afastado do
ministério no início do governo Dilma acusado de desvios em convênios
feitos pela pasta.
Lula também ficou incomodado com a escolha de críticos de seu governo
para dois ministérios importantes: o governador do Ceará, Cid Gomes
(Pros), que irá para a Educação, e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO),
futura ministra da Agricultura.
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