"Esse ano passou rápido." Todo ano é a mesma coisa. Todo ano passa rápido. Mas alguns anos passam rápido diferente. 
Esse ano passou rápido que nem uma facada no baço, uma topada no dedão, 
uma voadora, um pescotapa. Esse ano passou rápido que nem um aneurisma, 
um AVC, um infarto no miocárdio, o ebola. Esse ano passou rápido que nem
 o carro do Thor Batista atropelando um ciclista no acostamento, esse 
ano passou rápido. Esse ano passou tenso. Esse ano passou metralhando 
geral. 
Alguns anos parecem que são pessoas péssimas: sádicas, mórbidas, 
carniceiras. Vejam por exemplo 2014. Morreu o Carvana. Morreu o 
Coutinho. Morreu o Wilker. Morreu o João Ubaldo. Morreu o Manuel de 
Barros. Morreu o Suassuna. Morreu o Fausto Fanti. Morreu o Nico 
Nicolaievski. Morreu o Bolaños. 
Morreu o Philip Seymour Hoffman. Morreu o Robin Williams. Morreu a 
Tintim, dona do Guimas, na praça Santos Dumont -porque não entregou a 
bolsa. Morreu o Orkut -e junto com ele, tantos testimonials. Morreu a 
seleção brasileira. Parece que 2014 foi escrito pelo roteirista de "Game
 of Thrones": morreu todo mundo que prestava. 
Esse ano foi um 7x1 moral: perdemos amigos, ídolos, tempo e casamentos 
(nunca vi tanto casamento interminável terminar). As imagens do ano são 
terríveis: o menino amarrado no poste, David-Luiz-aos-prantos pedindo 
desculpas pelo massacre, Bolsonaro-pai deputado mais votado, 
Bolsonaro-filho pedindo intervenção militar com uma arma na cintura -e o
 pessoal aplaudindo. A água em São Paulo acabando -e o pessoal 
aplaudindo. 
O sentimento geral foi traduzido pela imagem do pinguim sendo estuprado 
pela foca. O ano de 2014 foi uma espécie de foca tarada. Faltou lançar 
esse movimento: #SomosTodosPinguins. 
E, nesse final de ano, como se não bastasse, a chuva de esperança rasa: 
feliz ano novo, tudo de bom, boas entradas, ano novo vida nova. Más 
notícias -que na verdade são boas: ano que vem também vai passar rápido.
 Pelo andar da carruagem, a carruagem é um trem-bala. 
A direção é desconhecida e o trajeto vai ser interrompido no meio, antes
 do que a gente espera. E vai passar rápido. Resta torcer para que passe
 rápido e bonito. Rápido e estratosférico. E não rápido e rasteiro 
-torço profundamente para que 2015 passe rápido pra você-, mas rápido 
feito uma andorinha, um cometa, um barato de lança-perfume. 
Eu tenho que dar os parabéns a este ator/escritor. Este texto traduz o sentimento de repulsa por este governo obsceno que está aí, pelo qual expresso o meu nojo e completa aversão. Espero que 2015 seja o ano dos pinguins darem o troco... (grifos meus)

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