Polícia Federal investiga
se empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato contratavam serviços
de consultoria para disfarçar o pagamento de propina
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Sérgio Rosa, em imagem de março de 2006, quando era presidente da Previ
(Nelson Perez/Valor/VEJA)
Investigada pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, a
construtora OAS contratou serviços de consultoria do ex-presidente da
Previ Sérgio Rosa, filiado ao PT, por 720.000 reais. De dezembro de 2012
a junho de 2014, Rosa recebeu 600.000 reais – 563.100 reais líquidos –,
divididos em dez parcelas, de acordo com um documento interno da
empreiteira apreendido pela Polícia Federal. Segundo os documentos, duas
parcelas finais, que somavam 120.000 reais, ainda eram previstas, mas
não é possível saber se foram pagas.
Policiais encontraram notas fiscais da consultoria de Rosa, a R. S.
Consultoria e Planejamento, na sede da OAS em São Paulo, no dia 14 de
novembro, quando foi deflagrada a sétima fase da operação. Outros
contratos de consultoria também foram apreendidos no local, porque a
polícia investiga se empreiteiras envolvidas em esquema de corrupção da
Petrobras fizeram contratos fictícios com consultorias para disfarçar o
pagamento de propina em troca de facilidades em estatais e concessões de
serviços públicos. A investigação obteve 20 mandados de prisão contra
executivos de oito empreiteiras, suspeitos de fraudar licitações da
Petrobras e pagar propina a funcionários públicos e políticos. Cinco
representantes da OAS foram presos e indiciados, incluindo o presidente
da construtora, Aldemário Pinheiro, conhecido como "Leo Pinheiro".
Reprodução
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Controle de pagamentos a terceiros da OAS
Os investigadores vão analisar se o mesmo esquema desenvolvido na
petrolífera foi utilizado em outras estatais e em concessões públicas de
serviços de infraestrutura, como alegaram em depoimentos o doleiro
Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo
Roberto Costa. Desde março, foram apreendidos documentos no escritório
de Youssef que tratam de empreendimentos de infraestrutura, incluindo
uma planilha de receitas da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Procurado pelo site de VEJA, Rosa negou vínculo entre sua atuação no
fundo de pensão e a remuneração pela construtora. Ele disse não se
lembrar do valor total desembolsado pela OAS. "Se alguém quiser quebrar
meu sigilo, faça e pronto, resolva tudo isso. Recebi pagamentos por
trabalhos realizados. Não houve nada relacionado à Previ ou a concessões
públicas", afirmou o ex-presidente do maior fundo de pensão do
país. Ele não é formalmente investigado na Operação Lava Jato.
Entre os serviços contratados estavam "comentários e opiniões" sobre
"projetos estratégicos" da OAS. Nenhum deles saiu do papel, diz o
ex-presidente da Previ. "Na maioria dos projetos, eram apresentações
sobre ideias dos projetos em análise. Que eu saiba, nenhum projeto foi
viabilizado, portanto não se tornaram públicos", afirmou.
O ex-presidente da Previ afirmou que só recebeu pagamentos nos meses
em que houve prestação de serviços. Um e-mail enviado pelo funcionário
Marcos Paulo Ramalho em 8 de maio deste ano ao presidente da OAS, Leo
Pinheiro, mencionava os pagamentos e dizia que "conforme as palavras de
Dr. Sérgio Rosa, ele só emite as notas conforme a demanda de trabalho
realizado no projeto".
Rosa deixou o comando da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil, em junho de 2010, cargo para o qual foi indicado em
2003 no começo do governo Lula. A Previ é sócia da OAS na Invepar,
empresa que controla concessões como o Aeroporto Internacional de
Guarulhos. O fundo de pensão também possui participações societárias em
empreendimentos como a usina hidrelétrica de Belo Monte, onde é sócio da
Camargo Corrêa, também investigada na Operação Lava Jato. Rosa foi o
representante da Previ na Vale, como presidente do conselho de
administração da mineradora de 2003 a 2010. De lá, seguiu para a
BrasilPrev, seguradora do Banco do Brasil, como presidente até maio de
2012. No período em que prestou consultoria para a OAS, representava o
fundo de pensão no Conselho de Administração da concessionária de
ferrovias ALL e desde abril de 2013 foi indicado pela Previ como
vice-presidente do conselho de administração da BRF. Ele foi vereador em
São Paulo entre 1994 e 1996.
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