Bruno Santos - 20.nov.2016/Folhapress | ||
Agência do Banco do Brasil na avenida Paulista; Multi Solution vence licitação de publicidade |
O nome da primeira colocada na licitação para a conta de publicidade do Banco do Brasil foi antecipado à Folha
na última quinta (20), quatro dias antes da abertura oficial dos
envelopes que trariam o resultado, que só ocorreu na manhã desta segunda
(24) em Brasília.
A concorrência é a de maior valor já realizada no governo Michel Temer.
A Multi Solution ficou com o primeiro lugar no certame que elegeu três empresas de propaganda para gerenciar a publicidade do banco pelos próximos 12 meses. Elas dividirão um contrato de até R$ 500 milhões por ano, prorrogável por até 60 meses, segundo o edital. Isso totalizaria R$ 2,5 bilhões, sem calcular eventuais reajustes.
A informação de que a Multi Solution estaria entre as vencedoras foi registrada pelo jornal em cartório na própria quinta-feira (20) e publicada em anúncio cifrado na seção de classificados do caderno Sobre Tudo da Folha deste domingo (23).
A concorrência é a de maior valor já realizada no governo Michel Temer.
A Multi Solution ficou com o primeiro lugar no certame que elegeu três empresas de propaganda para gerenciar a publicidade do banco pelos próximos 12 meses. Elas dividirão um contrato de até R$ 500 milhões por ano, prorrogável por até 60 meses, segundo o edital. Isso totalizaria R$ 2,5 bilhões, sem calcular eventuais reajustes.
A informação de que a Multi Solution estaria entre as vencedoras foi registrada pelo jornal em cartório na própria quinta-feira (20) e publicada em anúncio cifrado na seção de classificados do caderno Sobre Tudo da Folha deste domingo (23).
O informe trazia o nome da empresa e o número da concorrência que ela
venceria nesta segunda. Segundo a informação obtida pelo jornal, houve
direcionamento dentro da estatal para garantir que a Multi Solution
estivesse entre as contratadas pelo Banco do Brasil.
Procurado, o BB afirmou "que o processo de licitação para escolha das
novas agências de publicidade obedeceu rigorosamente a legislação, e a
definição das vencedoras foi norteada por critérios técnicos". Já a
Multi Solution negou qualquer favorecimento.
Outras duas agências de publicidade foram selecionadas na licitação, que
foi pública e realizada na manhã desta segunda, em Brasília: a Nova/sb e
a Z+. A primeira tem tradição em negócios do setor público e a segunda
integra um grupo francês.
Houve disputa acirrada entre ao menos quatro agências pela segunda e a
terceira colocações —uma firma estava no páreo e foi desqualificada após
recontagem. A Multi Solution, porém, foi a única entre as qualificadas
que não teve a liderança na disputa ameaçada.
PROCESSO
A agência alcançou 91,58 pontos, de um total de 100. Este tipo de
licitação, chamada de "melhor técnica", ocorre em fases e já na segunda
etapa, a Folha apurou, a Multi Solution tinha margem segura para garantir que estaria entre as contratadas.
A firma ficou cerca de seis pontos à frente das demais classificadas. A
distância entre as outras duas agências que venceram o certame foi de
pouco mais de um ponto: 84,25 (Nova/sb) e 85,26 (Z+).
Essa modalidade de licitação exige das concorrentes o preenchimento de
uma série de requisitos para que sejam habilitadas a participar da
concorrência. Neste caso, além de propor o menor preço, as empresas
enviaram ao BB planos de comunicação e capacidade de atendimento.
Essas informações são avaliadas por uma subcomissão, composta por seis
membros: dois sem vínculo com o BB (um do Ministério das Comunicações e
outro da Petrobras) e quatro funcionários da instituição financeira.
Pelo edital publicado em janeiro, as agências apresentariam as propostas
em envelopes não identificados, para que a subcomissão de licitação
desse notas sem conhecer a autora da proposta que estava avaliando.
No caso da disputa pela conta de publicidade do Banco do Brasil, 14
empresas foram habilitadas a participar da concorrência. Entre elas
estavam algumas das principais agências do ramo no Brasil, como a Agnelo
Pacheco e a Lew Lara, que fazia a publicidade da estatal até este ano.
A Multi Solution, presidida por Pedro Queirolo, nunca havia vencido
licitação em órgãos públicos. Por e-mail, Queirolo afirmou à Folha
que a vitória na licitação do BB "veio para coroar os 20 anos de
trabalho da agência, que é reconhecida por grandes cases no setor
privado".
A empresa ganhou visibilidade no mercado ao abocanhar, anos atrás, a conta das marcas Itaipava e TNT. A Itaipava é citada na Lava Jato como uma das firmas usadas pela Odebrecht para distribuir propinas —o que ela nega.
Veículos especializados no setor de publicidade noticiaram que, em 2012,
a agência perdeu esse negócio, o que levou à queda de metade do seu
faturamento.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, o Banco do Brasil defendeu o processo de
licitação e disse que a "escolha das novas agências de publicidade
obedeceu rigorosamente a legislação e a definição das vencedoras foi
norteada por critérios técnicos".
A assessoria de imprensa da instituição disse ainda que, "na próxima
quarta-feira (26), o Banco do Brasil, de forma transparente, irá
publicar todas as propostas técnicas que foram apresentadas na
licitação, junto com as respectivas notas atribuídas pela comissão
responsável pela avaliação, o que possibilitará a verificação de todo o
processo por qualquer interessado".
O Banco do Brasil negou também que tenha havido embate entre as agências
que participaram da disputa, embora concorrentes tenham pedido, e
conseguido, uma recontagem dos votos, que alterou a classificação das
empresas que disputavam o segundo e o terceiro lugar.
"A audiência cumpriu com normalidade todos os procedimentos previstos em
edital para apuração das empresas vencedoras da licitação, incluindo a
abertura em sequência dos dois envelopes com as propostas técnicas que
compõem a nota final de cada participante", informou a instituição.
Por e-mail, Pedro Queirolo, presidente da Multi Solution, disse que esta
foi a primeira licitação pública que venceu, mas que sua agência já
participou de outras concorrências, como Petrobras, Secretaria de
Comunicação da Presidência da República e Sebrae.
"O Banco do Brasil veio para coroar os 20 anos de trabalho da agência,
que é reconhecida por construir grandes cases no setor privado", afirmou
Queirolo.
Questionado pela reportagem se sua empresa havia obtido algum tipo de
favorecimento, disse que "de forma alguma". "Acreditamos que o novo
momento que nosso país enfrenta é uma oportunidade para desenvolver um
trabalho sério e competente também no setor público."
SAIBA MAIS
A Folha já antecipou resultados de concorrências públicas antes.
Em 1987, o jornal noticiou que o processo para a construção da ferrovia
Norte Sul havia sido fraudulento.
A Folha havia publicado, de maneira cifrada, os 18 vencedores cinco dias antes do anúncio oficial. Reportagem de Janio de Freitas
de 13 de maio de 1987 afirmava que a informação chegou ao jornal "antes
até de serem abertos, pela estatal Valec e pelo Ministério dos
Transportes, os envelopes com as propostas concorrentes".
Em outra ocasião, a Folha antecipou o resultado da licitação para a construção da via permanente 2-Verde do Metrô, obra de mais de R$ 200 milhões, vencida pelo consórcio de empreiteiras Camargo Corrêa/Queiroz Galvão.
O caso aconteceu em 2008, e o resultado foi divulgado de forma cifrada
oito horas antes da abertura dos envelopes da concorrência, em texto sobre a ópera "Salomé", então em cartaz em São Paulo.
Outra reportagem foi publicada em outubro de 2010, quando o jornal revelou ter registrado com seis meses de antecedência o nome das empresas vencedoras na licitação da expansão da linha-5 Lilás do metrô.
No caso de agora, com 14 empresas disputando 3 vagas, a chance de alguma ser selecionada ao acaso é de 21,4%.
Para que isso valha, porém, é preciso que todos os concorrentes estejam
em perfeita igualdade de condições, ou seja, tenham apresentado
propostas de qualidade e preço tão semelhantes que o resultado pode ser
aleatório, segundo Sergei Popov, professor de probabilidade na Unicamp.
Para que a probabilidade seja válida, a licitação precisaria ser "por sorteio, sem entrar no mérito".
Geralmente não é o caso: além de toda licitação avaliar os méritos,
algumas empresas podem ter estruturas mais eficientes, que permitam
preços mais baixos sem perda de qualidade, favorecendo-as numa licitação
honesta.
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