Pedro Ladeira/Folhapress | |
Parlamentares da oposição sobem no plenário da Câmara para protestar contra a reforma trabalhista |
Depois de mais de 14 horas de sessão, o plenário da Câmara dos Deputados
concluiu na madrugada desta quinta-feira (27) a aprovação da reforma trabalhista, uma das prioridades legislativas do governo de Michel Temer.
Na análise do texto-base, foram 296 votos a favor do relatório do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) e 177 contra.
Apesar da vitória, o governo não conseguiu atingir mais de 308 votos,
como queria, para sinalizar que tem votos suficientes para aprovar a
reforma da Previdência. Por se tratar de emenda à Constituição, essa
reforma precisa do apoio de pelo menos 60% dos congressistas (308 de 513
deputados).
Houve traições em partidos da base. O PSB do ministro Fernando Bezerra
Filho e o Solidariedade, por exemplo, orientaram seus deputados a votar
contra a reforma.
Após a votação do texto-base, a Câmara rejeitou quase todas as emendas
que podiam alterar pontos do texto, incluindo a que tentava manter por
mais seis anos a contribuição sindical obrigatória, que é o desconto
anual de um dia do salário do trabalhador, além da contribuição anual
das empresas. Foram 259 votos contra a emenda e 159 a favor. A única
alteração aprovada foi a que muda regras da penhora online.
A reforma, agora, segue para a análise do Senado.
O projeto é amplamente apoiado pelas entidades empresariais. Entre as
mudanças está a prevalência, em alguns casos, de acordos entre patrões e
empregados sobre a lei, o fim da obrigatoriedade da contribuição
sindical, obstáculos ao ajuizamento de ações trabalhistas, limites a
decisões do Tribunal Superior do Trabalho, possibilidade de parcelamento
de férias em três períodos e flexibilização de contratos de trabalho.
O principal argumento dos governistas é o de que a reforma dará fôlego
ao empresariado para retomar os investimentos e as contratações,
reduzindo a atual taxa de desemprego recorde, que é de 13,2%.
Entre as mudanças adotadas de última hora pelo relator está multa a
empresa que pagarem salários diferentes para homens e mulheres que
desempenhem a mesma função e que tenham o mesmo tempo de serviço no
mesmo cargo. A proposta, que entrou no texto por pressão da bancada
feminina, enumera, porém, uma série de condições para que seja
caracterizada a discriminação, entre elas "produtividade e perfeição
técnica".
Marinho também mudou a regra sobre o trabalho de gestantes e lactantes
em locais insalubres. Seu texto inicial liberava o trabalho nesses
locais desde que houvesse autorização médica. Agora, as trabalhadoras
que trabalharem em locais de grau baixo ou médio de insalubridade terão
que recorrer a atestado médico para serem dispensadas do trabalho.
'DRESS CODE'
A sessão foi marcada, mais uma vez, pelo embate entre governo e oposição.
"Coveiros da CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], inimigos da classe
trabalhadora", bradou em discurso Wadih Damous (PT-RJ). "Os senhores
nunca mais voltarão a essa Casa. Por traição à nação e aos trabalhadores
brasileiros", reforçou em seguida Orlando Silva (PC do B-SP).
A oposição patrocinou vários protestos. Portando cartazes contra o
projeto e caixões com a inscrição "CLT", deputados do PT, PC do B e
PSOL, entre outros, subiram à Mesa do plenário e, por alguns minutos,
conseguiram interromper a leitura do relatório de Rogério Marinho. A
ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL) chegou a gritar "não à
essa desgraça de reforma.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais
defensores da reforma, chegou a se exaltar em vários momentos da sessão.
Em um deles, afastou com a mão um dos caixões segurados por opositores
que estavam próximos a ele. Em outro, empurrou de forma abrupta o
petista Afonso Florence (BA) para se sentar em sua cadeira.
"São as tabuletas da mentira, carregando bandeiras da inverdade. Estamos
dando a todos os trabalhadores aumento relativo a um dia de trabalho,
um dia de suor", rebateu José Carlos Aleluia (DEM-BA), se referindo ao
fim do imposto sindical obrigatório. "Esse é um dia histórico, marcante,
daqui a 20, 30, 40 anos nós todos seremos lembrados como parlamentares
inteligentes, estudiosos e sensíveis", discursou o governista Darcisio
Perondi (PMDB-RS).
Pouco tempo depois o deputado Assis Melo (PC do B-RS) surgiu vestido com macacão de operário
no plenário, o que tumultuou ainda mais a sessão. Rodrigo Maia afirmou
que só teria a palavra os deputados que estivessem vestidos de "de
acordo com os costumes da Casa". A oposição aproveitou para protestar
mais ainda, argumentando, entre outras coisas, que até deputados com
nariz de palhaço já participaram de votações.
Pouco tempo depois, Assis Melo deixou de ser deputado. O ministro do
Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB-RS), reassumiu o mandato para votar a
favor da reforma. Melo voltou então para a primeira suplência.
Em discurso na tribuna, Nogueira apelou aos deputados para votar a favor
da reforma "não pensando nas próximas eleições, mas nas próximas
gerações."