A Procuradoria-Geral da República denunciou ao STF ( Supremo Tribunal
Federal) a senadora Gleisi Hoffman e o ex-ministro Paulo Bernardo, seu
marido, por corrupção e lavagem de dinheiro.
A acusação é que a campanha de Gleisi ao Senado, em 2010, teria recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras.
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, analisará a
denúncia e levará o caso para a segunda turma do tribunal, composta por
cinco integrantes.
Franklin de Freitas - 31.out.10/Folhapress | ||
Gleisi Hoffman e Paulo Bernardo nas eleições presidenciais de 2010 |
Se os ministros aceitarem a denúncia, os dois serão transformados em réus. Não há data prevista para essa análise acontecer.
Gleisi é uma das principais lideranças do PT no Senado e foi chefe da
Casa Civil no governo da presidente Dilma Rousseff entre junho de 2011,
quando Antonio Palocci deixou o cargo, e fevereiro de 2014 -ela deixou o
cargo para concorrer ao governo do Paraná e ficou em 3º lugar na
disputa.
Advogado da senadora e do ministro, Rodrigo Mudrovitsch afirmou à Folha que a denúncia traz uma narrativa completamente inverossímil e não se funda em elementos sólidos de prova.
"Declarações desencontradas de delatores não devem permitir a
instauração de uma ação penal. Acredito que isso será reconhecido pelo
STF", disse.
A denúncia também envolve o empresário Ernesto Kugler Rodrigues.
A participação da senadora e do ex-ministro no esquema foi apontada pelo
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e também pelo doleiro
Alberto Youssef, em suas colaborações premiadas.
A acusação da Procuradoria surge após a delação premiada do advogado
Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccin, que confirmou repasses de
dinheiro para a campanha da petista.
Segundo Pieruccini, em 2010, ele foi orientado por Youssef a fazer
quatro viagens de São Paulo a Curitiba (PR) para entregar dinheiro à
campanha de Gleisi, ex-ministra da Casa Civil (2011-2014).
Ele contou ter ouvido de Youssef que os valores "tinham sido acertados
com Paulo Bernardo", marido de Gleisi e ex-ministro do Planejamento
(2005-2011) e das Comunicações (2011-2015), e se destinavam à campanha
eleitoral da candidata ao Senado.
Pieruccini disse que as entregas ocorreram em uma sala no PolloShop,
localizado na rua Camões, em Curitiba, pertencente ao empresário Ernesto
Kugler Rodrigues. Pieruccini levou uma caixa lacrada com a inscrição
"P.B./Gleisi".
Na sua frente, segundo o advogado, Kugler contou as notas, em um total
de R$ 250 mil, mas fez duas reclamações: o primeiro valor "não dava nem
para o cheiro" e a etiqueta da caixa não deveria mais aparecer nas
próximas entregas -houve mais três, de mesmo valor, de acordo com ele.
Em relação a Gleisi, a Polícia Federal indiciou a senadora, mas o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF para anular o
ato.
Ele alega que, em 2007, o Supremo proibiu a PF de fazer, por conta
própria, o indiciamento de autoridades com foro privilegiado, como o
presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados.
OUTRO LADO
Em nota, a defesa da senadora afirmou que recebeu o oferecimento da denúncia com "inconformismo".
"Todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve
solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor por parte da
Senadora. A denúncia sequer aponta qualquer ato concreto cometido.
Baseia-se apenas em especulações que não são compatíveis com o que se
espera de uma acusação penal", diz o texto assinado pelos advogados
Rodrigo Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman.
"São inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores que embasam a
denúncia, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um
deles apresentou, nada mais, nada menos, do que seis versões diferentes
para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram".
Segundo os advogados, a delação de Pieruccini demonstra a fragilidade das acusações.
"Ao apagar das luzes, depois de um ano e meio da abertura do inquérito,
uma terceira pessoa aparece oudisposta a dizer que teria realizado a
suposta entrega de valores, numa nova versão que foge de qualquer
raciocínio lógico. Vale lembrar que esta pessoa é amigo/sócio/
funcionário de Alberto Youssef, o que comprova ainda mais a fragilidade
das provas e se vale do mesmo advogado de Alberto Youssef para fazer sua
delação."
Sobre o ex-ministro, os advogados afirmam que "as referências ao
ex-ministro Paulo Bernardo na denúncia baseiam-se em declarações
contraditórias e inverossímeis. Não houve qualquer envolvimento dele com
os fatos narrados na denúncia. Demonstraremos isso com veemência e
acreditamos que a denúncia não pode ser recebida".
Em depoimentos prestados à Polícia Federal, Gleisi Hoffmann e Paulo
Bernardo negaram quaisquer irregularidades na campanha de Gleisi em 2010
ao Senado.
Bernardo disse que o empresário Ernesto Kugler já atuou, no passado, na
"mobilização do empresariado para participar de reuniões no período
eleitoral", mas não teve "nenhuma participação direta na campanha".
Gleisi afirmou à PF que conhece Kugler há "cerca de dez anos", que ele
"participou de alguns eventos da campanha de 2010, mas não atuou na
captação de recursos".
Kugler afirmou à PF que "nunca obteve" de Youssef "ou de emissário dele
algum valor destinado à campanha" de Gleisi. Ele diz que não arrecadou
recursos para a campanha de 2010.
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