"Se eu levar um soco, te conto." A frase do deputado Darcísio Perondi
(PMDB-RS) na véspera de um debate com críticos da reforma da Previdência
ilustra um pouco do que defensores da principal bandeira do presidente
Michel Temer em 2017 têm enfrentado Brasil afora.
Entre os percalços, pressão nas redes sociais e em locais públicos, como restaurantes e aeroportos, e até na porta de casa.
Um acampamento equipado com banheiro químico foi montado na frente do
condomínio em que mora o presidente da comissão da Previdência, Carlos
Marun (PMDB-MS), em Campo Grande. Segundo ele, o grupo chegou a contar
com 500 pessoas.
A cobrança também chega por mensagem no celular e em ligações para o
telefone pessoal, diz o peemedebista. "Várias mensagens são ofensivas,
mencionam minha mãe", diz Marun.
Ele afirma que a resposta vai na mesma moeda: "De vez em quando escolho
uma para responder para dar uma desopilada. Sou bem bruto na hora de
responder a determinadas ofensas. Só não ofendo as mães, porque elas não
têm culpa."
O deputado, que diz não se abalar na convicção de apoiar a reforma,
negou o pedido da reportagem para ver uma troca de mensagens.
"As mais duras não podem ser publicadas."
Já o peemedebista gaúcho Mauro Pereira, também integrante da comissão,
atribui as mensagens e ligações que recebe à falta de informação.
"Na sexta recebi uma mensagem: 'Votei no senhor e o senhor votou contra
nós na Previdência'. Aí explico que ainda nem votamos", disse.
Para Pereira, que defende algumas alterações na proposta do Executivo,
as mensagens não são agressivas e é natural receber questionamentos
diários sobre o tema.
"Se quiser colocar o número do meu celular na reportagem, pode colocar. É
normal as pessoas ligarem para saber", afirmou o deputado, portador do
celular de número 99112-0087 (DDD 54).
Ao deixar um restaurante de cozinha alemã em Brasília na semana passada,
Darcísio Perondi, o deputado que prometeu relatar eventuais bofetadas
sofridas, foi abordado por uma mulher vestida com camisa de um sindicato
de professores.
"Ela veio com o dedo no meu rosto e eu não reagi: 'Você é um coordenador
e vocês querem acabar com tudo'. Deve ter me reconhecido", afirma o
peemedebista, um dos maiores defensores da reforma e um dos vice-líderes
do governo.
O tucano Marcus Pestana (MG) diz que a principal ofensiva, no seu caso, é
nas redes sociais. Mas ele afirma estar calejado e que é preciso ter
firmeza nas convicções na política. "São críticas, frases e posts
contundentes, dizendo que você está contra o trabalhador, uns com tons
de ameaça. A principal é: 'Você vai ver em 2018'", relata o tucano, em
referência ao ano em que a maioria dos congressistas tentará a
reeleição.
Nos bastidores, os aliados de Temer têm dito que os mais engajados nas
manifestações contra a reforma são os servidores públicos, cujas regras
seriam igualadas à da iniciativa privada, e partidos da oposição.
Até por isso, planejam bater na tecla de que os que ganham os mais altos
salários são os que mais trabalham contra a reforma. Segundo um deles,
para ganhar a guerra da propaganda, é preciso ter um "inimigo" bem
definido.
NAZISMO
O relator da proposta, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), disse na
quinta (16) que o governo está indo mal na comunicação da reforma e que
críticos da proposta nas redes sociais usam práticas do nazismo. "As
inverdades repetidas de maneira maciça, isso é uma prática do nazismo.
[...] É o que está acontecendo nas redes sociais."
O governo argumenta que a reforma acaba com privilégios e que é benéfica
para trabalhadores com salário menor. O texto estabelece idade mínima
de 65 anos e tempo mínimo de contribuição de 25 anos para homens e
mulheres. As regras valem para servidores públicos e trabalhadores do
setor privado.
No debate de sábado (18), Perondi não levou um soco, mas relatou em rede
social que foi recebido por militantes da oposição com "cusparada e
agressões verbais".
FOLHA
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