Eliane Cantanhêde
03 Abril 2015 | 02h 03
Órgãos de inteligência do governo,
principalmente das Forças Armadas, passaram o 31 de março em estado de
alerta para detectar tanto provocações de "oficiais de pijama" quanto
manobras do "exército do Stédile" e, assim, tentar evitar confrontos. E o
que aconteceu? Nada. Poucas vezes antes neste país o 31 de março passou
tão em branco. Desta vez, a crise corre ao largo dos militares.
O temor em Brasília era de que, neste clima político, com crises
variadas, a popularidade de Dilma Rousseff no chinelo e depois de
milhões de pessoas protestando no 15 de março, o aniversário do golpe
militar de 1964 servisse de pretexto para novas demonstrações de força e
embates de rua, com resultados imprevisíveis. O temor não se confirmou
e, no final do dia, a sensação na capital da República era de alívio.
Foi como se tivesse havido um acordão entre os militares da reserva e os
militantes de Lula/Stédile para ninguém botar mais lenha na fogueira,
para os dois lados não saírem às ruas. Não houve acordo, obviamente, só
uma avaliação fria de que não estão fortes o suficiente para mobilizar
massas e provocar comparações.
Apesar de toda a insinuação prévia de que haveria novos atos públicos, o
PT preferiu se trancar em "plenárias", lambendo as feridas, preparando o
congresso de junho e tentando traçar o futuro numa frente com MST, CUT,
UNE e acessórios que, em nome de uma guerra extemporânea entre
"direita" e "esquerda", engolem qualquer coisa, até o indigesto
desmanche da Petrobrás.
Essas plenárias do partido são como uma pausa para pensar, num momento
em que a popularidade da presidente bate no fundo do poço (12% de
aprovação?!) e ela reza para São Levy fazer chover e conseguir aprovar
no Congresso as correções dos imensos erros que ela própria cometeu no
primeiro mandato.
Do outro lado, o militar, o que houve foi mais do mesmo: almoço de
oficiais da reserva no Clube Militar, uma meia dúzia gritando palavras
de ordem do lado de fora e outra meia dúzia fazendo confusão em local
fechado de São Paulo. Nada que mereça o título de "manifestação". Isso
só reforça que, desta vez, as Forças Armadas não têm nenhum
protagonismo. Mesmo nos bastidores, os militares debatem a crise como
qualquer cidadão: com espanto. Sem intenções, sem objetivos.
São os agentes políticos que estão em retiro espiritual, não exatamente
por causa da Semana Santa, mas para tentar entender a dramaticidade do
momento, projetar os cenários possíveis e já se contorcendo para poder
mais adiante se encaixar em diferentes hipóteses.
Dilma está em suspenso, à espera de Levy. Levy depende desesperadamente
do Congresso. O Congresso é todo olhos e ouvidos para as ruas. Lula e o
PT, atarantados, pedem socorro para as centrais e movimentos engajados.
Os movimentos engajados descobrem que não é hora de medir forças com as
classes médias irritadas. E a oposição, um tanto deslocada do centro da
cena, fica atenta à panela de pressão para decidir a hora de aumentar ou
de diminuir o fogo. Além de avaliar se poderá, ou não, assumir algum
tipo de liderança nas manifestações de rua e se chegará, ou não, o
momento de jogar algo, ou alguém, na fervura.
A próxima grande manifestação popular está prevista para 12 de abril,
primeiro domingo após a Páscoa, e deve responder a uma pergunta que não
quer calar, no governo, na oposição, muito particularmente no PMDB: se a
explosão de 15 de março vai aumentar mais e mais, ou se aquele grito
bastou e agora a maioria vai preferir ouvir pela janela, panelas à mão.
Ou seja, se aqueles milhões foram às ruas e se recolheram, ou se foram
para ficar.
Os militares estão quietos no canto deles, mas, além dos advogados, dos
policiais federais, dos procuradores e dos jornalistas, outra categoria
que vem trabalhando demais ultimamente são os agentes de inteligência do
governo. Nem eles, porém, têm resposta para a grande pergunta da crise:
no que tudo isso vai dar?
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