Luciana Amaral
Do UOL em Brasília
O deputado do PT Paulo Pimenta (RS) deu voz de prisão à representante
do movimento Nas Ruas Carla Zambelli nesta quinta-feira (30) dentro do
Senado Federal após ela ter acusado o partido, o parlamentar e o
deputado Wadih Damous (PT-RJ) de "estar roubando".
A confusão aconteceu no corredor de plenários de comissões após o fim
de uma sessão da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da JBS,
frigorífico controlado pelo grupo J&F, para apurar supostas
irregularidades praticadas pela empresa. Nesta quinta, a comissão ouviu depoimento e fez perguntas ao advogado e ex-operador da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran.
Após Carla abordar os deputados e insistir em questioná-los sobre a
"intenção das perguntas" a Duran, Pimenta afirmou que ela deveria
"trabalhar". Em resposta, ela falou: "eu estou trabalhando, ao contrário
de vocês que estão roubando".
Após a declaração de Carla, Pimenta perguntou "o que a senhora falou?" e
se dirigiu a um policial legislativo: "Olha só, essa senhora aqui está
dizendo que eu estou roubando". Ela respondeu: "ué, o PT não está
roubando?". Pimenta então deu voz de prisão e pediu que o policial a
levasse para a delegacia da corporação no subsolo do Senado para prestar
esclarecimentos.
Mais tarde, a ativista afirmou que Pimenta não chegou a ir à Polícia
Legislativa a fim de registrar a ocorrência por "crime à honra"
formalmente e dar sua versão dos fatos. Dessa forma, Carla prestou
esclarecimentos aos policiais e foi liberada por volta das 16h.
Apoio ao governo Temer e à Lava Jato
O Nas Ruas apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e
já se posicionou a favor do governo de Michel Temer (PMDB). O
presidente, inclusive, recebeu Zambelli e outros integrantes do grupo em
seu gabinete no Palácio do Planalto por intermédio do ex-assessor
especial de Temer e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB),
flagrado correndo com mala de dinheiro em São Paulo e em prisão
domiciliar. O grupo também é conhecido por exaltar ações do juiz federal
Sergio Moro, responsável pela primeira instância da Lava Jato no
Paraná.
Carla questionou o teor das perguntas a Duran, porque, ao seu ver, elas
seriam desfavoráveis a Moro. Durante depoimento, o advogado disse que o
ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot pode ter usado
documentos manipulados para sustentar a segunda denúncia apresentada
contra Temer.
Duran ainda acusou um advogado trabalhista --amigo e padrinho de
casamento de Moro, segundo o jornal "Folha de S.Paulo"--, Carlos
Zucolotto, de propor propina em troca de intermediações paralelas com a
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Entre os benefícios, estaria a
redução da multa a ser paga em um possível acordo de delação a ser
fechado entre Duran e o Ministério Público Federal na cidade.
Durante a CPMI, Carla já tinha entrado no plenário e gravado Pimenta
fazendo perguntas a Duran. O vídeo estava sendo transmitido ao vivo para
a página do movimento no Facebook. Na saída, ela abordou o parlamentar,
que inicialmente se recusou a comentar, mas depois disse que queria
descobrir a "verdade". Carla questionou se eles tinham "medo de
perguntas" do grupo e "medo do Sergio Moro".
"Quando o senhor perder o foro privilegiado, o senhor vai encontrar com
ele, viu? Vai ter um encontro bem gostoso com o Sergio Moro quando
perder seu foro no ano que vem", disse a representante do Nas Ruas. A
partir de então, Pimenta a manda "trabalhar".
Depois de mais bate-boca, Carla foi encaminhada para a delegacia, onde
continuou a transmitir o caso ao vivo. Segundo ela, a acusação do roubo
foi "genérica" e não se dirigiu a um parlamentar em específico.
Em sua página no Facebook, Pimenta afirmou que Carla o agrediu e
caluniou, e também a Damous e outros integrantes do PT. Ele citou o
artigo 138 do Código Penal, que define punição ao ato de "imputar
falsamente fato definido como crime, com pena de detenção de seis a dois
anos". Sobre o fato de ter dado voz de prisão à militante, o
parlamentar se referiu novamente ao Código Penal, que permite a qualquer
pessoa "prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito".
Procurada pela reportagem, a Polícia Legislativa informou que não se manifesta sobre casos específicos.
UOL
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