Criado em 2011 para discutir a preparação de São Paulo para receber a
Copa e avaliar os impactos do megaevento, sobretudo na questão das
moradias, o Comitê Popular da Copa expandiu-se para todas as cidades
sede. Criou-se assim a ANCOP, Articulação Nacional dos Comitês Populares
da Copa. Desde então o grupo vem acompanhando e apoiando a resistência
dos movimentos sociais das comunidades atingidas e viu a pauta
dilatar-se em virtude das violações, processos de exclusão social e
arbitrariedades.
A lista de reivindicações do Comitê se expandiu e hoje inclui, entre
outras coisas: revogação das áreas exclusivas que constam da Lei Geral
da Copa e que prejudicam ambulantes, comércio local e até artistas de
rua; garantia de assistência à população de sem-teto que vem sendo
subtraída das ruas de grandes cidades pela política higienista; não
instalação dos tribunais de exceção no entorno dos estádios;
arquivamento imediato dos projetos de lei que tramitam no Congresso com a
finalidade de criminalizar manifestações, movimentos sociais e que
tipificam o crime de terrorismo.
Para Marina Mattar, do Comitê Popular da Copa SP, engana-se quem
acredita que não há mais sentido em protestar contra a Copa do Mundo.
“Agora que todas as maldades já foram feitas, de que adianta?’, é o que
ela me pergunta. “Ainda há sim muito a ser feito e não só agora, mas até
mesmo depois da Copa. Afinal, como ficarão as pessoas removidas em
virtude das obras?”.
Segundo Marina, já ocorreram 150 mil remoções. Entre a Copa e a
Olimpíadas, serão 250 mil. “Não é um simples tira daqui e coloca ali. As
pessoas têm vínculo com o bairro, existe a escola dos filhos, o
trabalho, a vida construída ali. Isso quando, na melhor das hipóteses,
ocorre a realocação. Na última Copa na África do Sul, milhares de
moradores de rua de Johannesburgo foram recolhidos e enviados para um
campo similar ao de refugiados a 30 quilômetros de distância e lá estão
até hoje”, diz Marina.
“Se as baianas sucumbissem a essa postura conformista, não venderiam
seu acarajé em frente ao estádio da Fonte Nova como fazem há décadas,
por exemplo. A luta reverteu essa imposição da zona de exclusão que
prejudica ambulantes, o comércio local e até artistas de rua”. Produtos
sem “carimbo” da Fifa precisam ficar para além do raio de 2 quilômetros
em torno dos estádios, que é o perímetro em que apenas atividades
oficiais do evento e comércio autorizado poderão atuar.
No momento em que entrevistava Marina, ocorria um protesto há menos
de 3 quilometros dali, o IV Ato Contra a Copa. Pergunto por que não
estavam participando. Marina explica a posição atual do Comitê. “Não é
que não iremos para a rua. O Comitê já foi muito para rua, estamos há 3
anos na luta. Só não queremos ser a única voz, nem o guarda-chuva dos
demais movimentos. Uma parte desse movimento ‘Não vai ter Copa’ (que era
quem encabeçava o protesto naquela hora) surgiu de um debate-bola que
fizemos em Itaquera. A gente vê com bons olhos essa disseminação de
outras iniciativas que questionam a Copa.
Como será em junho não é
possível responder agora, as coisas mudam muito.”
Não há nada de positivo na realização da Copa?, pergunto a Marina.
“Não somos contra o futebol ou contra torcedores, nada disso. Estamos
preocupados com o impacto nas cidades. Se não há nada de positivo? Há,
mas para alguns poucos. Por isso questionamos, Copa para quem? O legado
será para quem? As empreiteiras, por exemplo, estão felizes da vida.”
Mas nada é tão ruim que não possa piorar. A Fifa promete acionar na
justiça as cidades que não realizarem as Fan Fests, evento com telões e
shows que ocorrerão durante as partidas (incomoda algumas cidades o fato
de terem que arcar com parte dos custos. A Fifa fornece telão e som,
mas a segurança e o pagamento de artistas, por exemplo, compete às
prefeituras. O evento é gratuito). Está aí mais uma briga para o comitê.
Fonte: DCM
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