Franklin de Freitas - 31.out.10/Folhapress | |
O ex-ministro Paulo Bernardo e sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann, em 2010 |
O administrador Marcelo Maran, investigado na Operação Custo Brasil por
suspeita de participar de um esquema de desvio de dinheiro em contratos
de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento,
assinou acordo de delação premiada com a força-tarefa da
Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
A Custo Brasil é um desdobramento da Operação Lava Jato. O acordo
firmado com o Ministério Público Federal aguarda a homologação do
ministro José Antonio Dias Toffoli, relator da operação no STF (Supremo
Tribunal Federal).
Maran era o encarregado da contabilidade do escritório de advocacia de
Guilherme Gonçalves, apontado como o responsável por repasses ilegais
destinados a campanhas e despesas pessoais da senadora Gleisi Hoffmann
(PR), presidente do PT, e Paulo Bernardo, ex-ministro do Planejamento,
seu marido.
A Folha apurou que Maran descreveu aos procuradores o que seria o caminho da propina para a senadora e o ex-ministro.
Desde abril ele trabalha junto com os procuradores decifrando o conteúdo
de planilhas, documentos e manuscritos apreendidos no escritório de
Gonçalves.
Maran apontou quais notas fiscais arquivadas haviam sido forjadas para
justificar despesas das campanhas de Gleisi e Paulo Bernardo. Também
indicou o destino de dinheiro vivo que teria sido sacado na boca do
caixa.
Segundo uma pessoa envolvida com o acordo, os depoimentos do delator,
gravados em vídeo, corroboram as acusações feitas pela Procuradoria
contra os petistas.
Além do dinheiro que teria sido desviado dos contratos de crédito
consignado, o delator também falou sobre corrupção envolvendo empresas
de transporte público do Paraná.
A Folha apurou que na delação de Maran são citados outros agentes
públicos e políticos que também teriam utilizado o escritório de
Gonçalves para repasse de dinheiro ilegal e não haviam aparecido na
investigação da Custo Brasil por não terem relação com contratos de
crédito consignado.
PRISÃO
Marcelo Maran foi preso em 15 de agosto de 2016, acusado de coagir
testemunhas. Saiu da cadeia em dezembro, graças a decisão da 11ª Turma
do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que lhe concedeu um habeas
corpus.
Ele é acusado de participar do esquema de desvios em empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento.
A Custo Brasil começou no Paraná sob a orientação do juiz federal Sergio
Moro. Em 2015, o STF decidiu que só ficariam na Justiça paranaense
casos referentes a desvios na Petrobras e enviou a investigação de
desvios em contratos de crédito consignado para a Justiça de São Paulo.
OUTRO LADO
O advogado de Gleisi Hoffmann, Rodrigo Mudrovitsch, disse que "não vai
comentar vazamento de possível acordo de delação que sequer foi
homologado" e que sua cliente nunca manteve contato com Marcelo Maran.
Veronica Sterman, advogada de Paulo Bernardo, disse que seu cliente nega
as acusações e aguarda que a Justiça resolva seu caso baseada nas
provas concretas.
A advogada de Guilherme Gonçalves, Regina Ferreira de Souza, disse que
não teve acesso ao conteúdo dos documentos da suposta delação premiada.
A defesa de Marcelo Maran não quis se manifestar.
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