Lava Jato
Evaristo Sá - 11.jul.2017/AFP | ||
A senadora Gleisi Hoffmann discursa durante sessão sobre a reforma da Previdência, em julho |
Ré em uma ação penal
acusada de receber dinheiro ilícito para sua campanha ao Senado em
2010, a senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, prestou
depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda (28) e negou
os crimes. Ela disse ser vítima de perseguição em um processo com "alto
grau de politização".
"Eu neguei o que estão me acusando e pedi para que o Ministério Público
mostre quais são as provas de que eu cometi corrupção passiva ou lavagem
de dinheiro.", disse Gleisi.
"Primeiro porque eu não tive contato com Paulo Roberto Costa [ex-diretor
da Petrobras], nunca tive ascendência na Petrobras, nunca facilitei ou
dei condições ou me relacionei com fornecedores da Petrobras para
beneficiá-los. Isso teria que estar caracterizado no processo para
estarem me acusando como estão."
A investigação teve como origem a delação do doleiro Alberto Youssef. A denúncia contra Gleisi foi uma das primeiras da Lava Jato ao STF e o processo é um dos mais adiantados.
A senadora foi ouvida em juízo pela primeira vez nesta segunda por
juízes assistentes do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no
Supremo.
"Estou há três anos apanhando nesse processo, não tem uma prova nele de
que eu tenha cometido qualquer crime, e estou sendo julgada e condenada
antecipadamente", disse Gleisi, ao sair do depoimento, que foi fechado
para a imprensa.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou Gleisi e seu
marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, por supostamente terem recebido R$
1 milhão para a campanha dela ao Senado em 2010.
"O montante era oriundo do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro
estabelecido na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, na época
ocupada por Paulo Roberto Costa, o qual solicitava e recebia quantias
ilícitas de empresas interessadas em celebrar irregularmente contratos
com a estatal e em obter benefícios indevidos no âmbito das
contratações", sustentou a Procuradoria na denúncia.
"Parte dessas quantias ilícitas era repassada a agentes políticos por
Paulo Roberto Costa, com o auxílio de seu operador de propinas Alberto
Youssef, a fim de assegurar a sua permanência no cargo e a manutenção do
esquema criminoso", diz a acusação.
"Nesse contexto ocorreu o repasse de parte das quantias ilícitas, no
total de R$ 1 milhão, à campanha eleitoral de Gleisi Hoffmann de 2010,
com a finalidade de manutenção de Paulo Roberto Costa no cargo, seja com
a não interferência nessa nomeação e tampouco no funcionamento do
esquema criminoso, seja com fornecimento de apoio político para sua
sustentação, tanto por parte de Gleisi [...] como por parte de seu
cônjuge, Paulo Bernardo Silva, então Ministro de Estado."
Paulo Bernardo também prestou depoimento nesta tarde. "Deixei claro que
nunca pedi dinheiro ao Paulo Roberto Costa", afirmou o ex-ministro
petista. Segundo ele, a Polícia Federal o investigou e não conseguiu
comprovar nenhuma reunião entre ele e o ex-diretor da Petrobras.
"Paulo Roberto nunca me pediu apoio para ser diretor da Petrobras e eu
também nunca movi uma palha para isso", disse Paulo Bernardo.
'POLITIZAÇÃO'
Gleisi acusou o delator Alberto Youssef e sua defesa de terem mirado nela com objetivos políticos.
"Acho que quem tem que dar esses esclarecimentos é Alberto Youssef e o
advogado dele, que é advogado também do PSDB", disse a senadora, sem
citar o nome do defensor. "Eu sou vítima de perseguição política em
razão da origem desse processo com Alberto Youssef e o seu advogado que
foi assessor no governo de Beto Richa, do PSDB."
"Quando eu fui denunciada, meu processo foi um dos primeiros, tinha um
alto grau de politização e muita influência no Judiciário, incluindo o
Ministério Público, pela opinião pública, o que é um erro", declarou.
A Folha procurou o advogado Antonio Figueiredo Basto, responsável
pelo acordo de colaboração do doleiro Youssef, sobre as declarações da
senadora. Basto afirmou que foi advogado do governador paranaense Beto
Richa, mas não do PSDB.
"Não tenho vínculo com partidos. Essa mulher deveria provar o que fala.
Está querendo desviar o foco da investigação. A denúncia foi feita pela
PGR e aceita pelo STF. Além disso, ela está investigada em outros
fatos", afirmou o advogado.
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