SÃO PAULO - Independente das aplicações temerárias e
fraudulentas que já são investigadas pela Polícia Federal em algumas
instituições, os fundos de pensão brasileiros ainda estão longe das
melhores práticas de investimento quando comparados aos principais
fundos de pensão do exterior. O resultado é que essas deficiências têm
levado a retornos inferiores às suas metas atuariais e a déficits
consecutivos, o que pode comprometer a sustentabilidade ao longo dos
anos.
As
conclusões constam de um levantamento feito pela consultoria Roland
Berger, que comparou a carteira de investimentos dos quatro principais
fundos de pensão do país (Previ, Petros, Funcef e Funcesp) com fundos
considerados referência no exterior. A pesquisa levou em conta as
características de cada mercado.
— Há grande diferença de performance dos fundos de pensão no Brasil
em relação aos principais fundos do exterior. O pior desempenho,
registrado por déficits consecutivos, indica que os fundos brasileiros
estão longe das melhores práticas de investimento feitas por seus pares -
diz António Bernardo, presidente da Roland Berger no Brasil. Ao final
de 2015, os quatro principais fundos de pensão do país somavam juntos um
déficit de R$ 63 bilhões.
Ele observa que a gestão dos fundos de pensão no Brasil ainda é
focada no curto prazo, enquanto no exterior é feita pensando em retornos
sustentáveis nos próximos 40/50 anos. Por isso, os fundos do exterior
têm em sua carteira uma parcela maior em ações, que tendem a oferecer
melhor retorno em prazos mais longos. Além disso, eles aplicam em papéis
de setores muito variados e em empresas de diversos países. Por
exemplo, o fundo norueguês Government Pension Fund, com US$ 900 bilhões
em recursos em portfólio, tem em sua carteira entre 7% e 8% das ações
apenas do mercado espanhol.
No Brasil, embora a legislação brasileira permita investir até 10%
dos recursos em ativos no exterior, a média dos fundos brasileiros é de
0,1%, o que atrela o retorno ao desempenho da economia brasileira.
Com base nos dados dos fundos brasileiros, a pesquisa a Roland Berger
constatou que 71% da carteira corresponde a aplicações em renda fixa e,
majoritariamente, em títulos do governo. No exterior, esse percentual é
de em média 30%, considerando papéis do governo, mas também de empresas
privadas.
— É como colocar todos os ovos na mesma cesta - diz Miguel Costa,
gestor de projetos da Roland Berger no Brasil e um dos autores do
levantamento.
O investimento dos fundos em renda variável, no Brasil, se concentra
em, no máximo, cinco ações, geralmente de pouca liquidez e de setores
ligados a decisões governamentais. O estudo mostrou que quanto maior a
diversificação em renda variável maior o retorno real obtido ao longo
dos anos.
No Brasil, o peso da renda variável na carteira dos fundos era de
menos de 20%, em 2014, e o retorno obtido com eles foi de menos de 1%
entre 2010 e 2014. Na Austrália, onde o peso da renda variável na
carteira dos fundos era de 50%, em 2014, o retorno obtido entre 2010 e
2014 foi de quase 6%, segundo o estudo da Roland Berger.
— Os retornos são reais, deflacionados, para que seja possível
comparar os fundos brasileiros com os fundos estrangeiros - explica
Miguel Costa.
Outros fundos de países da América Latina, como Colômbia, México e
Chile, apresentam alocação de recursos em ações mais alta do que os
fundos brasileiros, o que tem garantido retornos mais expressivos, diz
Costa.
A conclusão da Roland Berger é que os gestores de fundos de pensão
brasileiros terão que redefinir sua estratégia de longo prazo,
considerando metas, estrutura de ativos para garantir retornos
consistentes e mitigar o risco de se tornarem insustentáveis.
— Não vimos clareza nessa estratégia de longo prazo. Também é
necessário melhorar a governança. Isso tem ocorrido nos últimos meses,
mas é preciso que haja um controle interno mais rigoroso - observa
Bernardo.
Procurada, a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de
Previdência Complementar (Abrapp) informou que os fundos brasileiros
agem com prudência ao gerir recursos de terceiros.
— A tranquilidade do retorno dos investimentos em títulos públicos
faz com não se queira arriscar demais. Isso faz parte da prudência ao
gerir ativos de terceiros. E esses outros investimentos, como fundos
imobiliários, ações e outros, não estavam performando bem nos últimos
anos — disse Luís Ricardo Martins, presidente da Abrapp.
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