Magistrados e procuradores fazem manifestação no Supremo Tribunal Federal, na quinta-feira, contra projetos articulados no Congresso.
A manifestação que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a
Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas)
programou para esta quinta-feira (1) na marquise do salão branco do
Supremo Tribunal Federal será realizada no mesmo horário em que a Corte
julgará denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros.
A pauta da sessão foi divulgada pelo STF em 5 de outubro último.
O primeiro item é o inquérito 2593, que tem como relator o ministro
Edson Fachin. Em investigação iniciada há nove anos, a Procuradoria
Geral da República acusa Renan de usar dinheiro de uma empreiteira para
pagar a pensão de uma filha que teve fora do casamento com a jornalista
Mônica Veloso.
Em nota, o presidente do Senado afirmou que foi ele quem “pediu
oficialmente” a investigação e “é o maior interessado nesse julgamento”.
O presidente da AMB, João Ricardo Costa, divulgou nesta sexta-feira
(25) uma carta a todos os associados convocando a magistratura e o
Ministério Público para participarem do ato público contra projetos que
estão sendo articulados no Congresso, como a anistia ao caixa 2 e a
criminalização de juízes e procuradores, entre outros.
Eis a íntegra da carta:
Prezados (as) associados (as),
A situação que temos acompanhado no Congresso Nacional é
extremamente grave. Um momento sem precedentes na história republicana
brasileira, em que estamos vendo uma série de ações orquestradas que
buscam cercear a atuação da magistratura e paralisar o Poder Judiciário.
Mais do que nunca, a magistratura nacional e os membros do
Ministério Público precisam unir esforços para combater fortemente tais
medidas. A AMB convoca toda a magistratura nacional para uma grande
mobilização em protesto às retaliações promovidas pelo Legislativo. No
próximo dia 1º de dezembro, quinta-feira, todas as entidades que compõem
a Frentas (Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público)
estarão reunidas para um importante ato no Supremo Tribunal Federal
(STF), em Brasília, a partir das 14h. Nos estados, as associações
regionais estarão também mobilizadas de acordo com as decisões de suas
assembleias, com a possibilidade de paralisação de um dia sem prejuízo
das medidas urgentes.
A “pauta especial” defendida pelo Parlamento, caso venha a ser
aprovada, vai consolidar um modelo de Estado sem Judiciário, um sistema
completamente desprovido das prerrogativas, de independência e
autonomia. A começar pelo pacote de medidas contra a corrupção,
observamos se avizinhar uma manobra que não é mais velada, mas feita sob
todos os holofotes e defendida por grande parte da Câmara dos
Deputados: transformar um projeto de iniciativa popular em um pacote
pró-corrupção.
Medidas como a anistia ao caixa 2 e a criminalização de juízes e
procuradores, que poderão ser incluídas no parecer por meio de emenda de
plenário, que jamais teremos conhecimento antes da votação, pretendem
absolver todos aqueles que sugaram o País e criminalizar os agentes
públicos que têm a função constitucional de reprimir e punir os crimes
de corrupção.
Não só a inclusão de crime de responsabilidade, típico de agentes
políticos, vai ser imputado à magistratura, possibilitando que
políticos julguem juízes em face de tipos penais extremamente subjetivos
e abertos. Existe ainda a proposta da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) que se articula fortemente para promover a criminalização dos
juízes nos casos de violação das prerrogativas de advogados. Com isso, 1
milhão de advogados terão o poder de iniciar ação penal contra juízes,
dando, ainda, às seccionais da OAB a iniciativa da ação penal. Em meio a
esse caos, em nenhum momento vimos a OAB se manifestar contra a anistia
ao caixa 2 ou em favor de medidas sérias para retomada do Brasil, o que
é lamentável e demonstra uma postura que nega a história de lutas da
entidade e induz a negociação da submissão dos juízes pela impunidade
dos que saquearam o Estado.
No Senado Federal, se orquestra a urgência para aprovação do PLS
da lei de abuso de autoridade, o que também torna a magistratura e o
Ministério Público reféns diante da possibilidade de responsabilidade
criminal de suas atuações, comprometendo a autonomia e a independência
jurisdicional. Juntamente com a PEC 55/2016, a chamada PEC do Teto,
também tramita no Senado a PEC 62/2015, que já conta com propostas de
plenário para redução do teto constitucional para R$ 15 mil, sem contar o
último atentado, a PEC 63/2016, do senador José Aníbal. Junto com isso,
há ainda a Comissão Especial dos chamados supersalários, na qual
visivelmente o alvo é o Poder Judiciário.
Não podemos permitir que setores do Congresso permaneçam pautados
por ações que visam interromper as investigações, se debruçando sobre
projetos com o objetivo de atender a interesses pessoais de uma parcela
de parlamentares. Toda essa ofensiva demonstra o quanto, nesse momento
de crise em que o Legislativo deveria ter como foco pautas relevantes
para o Brasil como a discussão que propõe o fim do foro privilegiado,
muitos priorizam formas de paralisar e amordaçar o Poder Judiciário,
invalidando importantes operações de combate à corrupção e buscando
caminhos para perpetuar os mesmos quadros e esquemas que saquearam o
País.
É muito importante que consigamos reunir o maior número de
magistrados neste ato para dar voz à magistratura nacional, com o apoio
da sociedade. Esse é um momento único e decisivo para evitarmos o
enfraquecimento da autonomia e das prerrogativas das carreiras do
Judiciário. Os interesses que ora defendemos transbordam questões
associativas. São questões fundamentais para o Brasil, para a República e
para a democracia.
Somos magistrados e formamos a AMB.
Conto com todos vocês!
João Ricardo Costa
Presidente da AMB
Presidente da AMB
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