"O frisson do momento é a delação premiada de Alberto Youssef. Mas quem é
Youssef? [...] Foi um dos doleiros usados pelo então operador do caixa
do PSDB, Ricardo Sérgio, para 'externalizar', num linguajar ao gosto da
legenda, propinas da privatização selvagem dos anos 1990.
Youssef é velho de guerra tanto em delitos como em delação premiada. Já
fez uma em 2004, na época da CPI do Banestado, quando se comprometeu a
nunca mais sair da linha. O tamanho de sua confiabilidade aparece em sua
situação atual. Está preso de novo. Quem diz é o Ministério Público:
'Mesmo tendo feito termo de colaboração com a Justiça [...], voltou a
delinquir, indicando que transformou o crime em verdadeiro meio de
vida.'"
Tais linhas foram publicadas em 29/9/2014, por este colunista, quando a
oposição festejava as declarações vazadas por um bandido contumaz. Vale
repetir o diagnóstico do Ministério Público sobre o rapaz: "Transformou o
crime em verdadeiro meio de vida". Não há aí muita surpresa em se
tratando da espécie humana. Fernandinho Beira-Mar, Marcola, Al Capone e
outros tantos com nomes mais nobres também padecem do mesmo caráter. A
novidade é que hoje o Brasil parece estar nas mãos de um sujeito deste
tipo, autor das principais "denúncias" que sustentam o listão.
O maior serviço prestado pela lista de Janot não é o de mostrar a
qualidade dos políticos envolvidos, tampouco a de seus partidos.
Mentiras à parte, sobrou para todo mundo. Tem PT, PSDB, PP, PMDB, SD.
Mortos como Eduardo Campos (PSB) e Sérgio Guerra (PSDB) foram poupados,
como era de se esperar.
A utilidade do listão é trazer o debate para um outro patamar. Com
exceções de praxe, percebe-se que o sistema sobre o qual está assentada a
democracia brasileira é viciado, e não de agora. Os atores mudam, os
partidos também. Alguns, como Youssef, servem a vários senhores. Mas
como virou costume dizer, o defeito é "sistêmico".
Estamos apenas no começo. Meses, quando não anos, vão separar as
denúncias de veredictos definitivos. Mesmo estes, vide o chamado
mensalão, estarão sujeitos a diferentes interpretações. O peso das
provas, a favor ou contra, dependerá do humor, inclinação e bengaladas
do distinto Supremo Tapetão Federal.
Mas se a longo prazo todos nós estaremos mortos, como falava Keynes, a
vida segue no dia a dia para quem respira. Horas e horas de turbulência e
chantagem ocuparão o noticiário doravante. Já o impacto na vida do
cidadão estará ligado a efeitos bem mais realistas que a troca de farpas
e baixarias entre os políticos.
É para aí que qualquer governo deveria concentrar suas atenções. Nos
próximos dias 13 e 15, haverá manifestações relacionadas ao momento
atual. Até aí, nada demais. Trata-se do exercício da democracia. O que
chama a atenção é um detalhe: as duas levantam bandeiras contra o
Planalto, mesmo contando com atores e objetivos diferentes.
A primeira, promovida por centrais e movimentos populares, protesta
contra impeachment, defende a Petrobras etc., mas coloca no centro a
defesa de direitos sociais atacados pelo receituário do ministro
Levy/Dilma. Dois dias depois, golpistas habituais pretendem reunir
seguidores para tentar reverter na marra a derrota nas urnas. Faz parte.
Eis o verdadeiro nó que o governo deveria estar preocupado em desatar. A
começar por escolher um lado, de preferência o socialmente certo.
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