Novo governo
Pegos de surpresa com o panelaço em razão do pronunciamento de Dilma
Rousseff na TV neste domingo (8), dirigentes petistas temem que o ato
contra o governo marcado para o dia 15 repita as manifestações de junho
de 2013.
A principal preocupação é com São Paulo, onde se concentraram os
protestos e reações ao PT e à presidente. Nas palavras de um aliado de
Dilma, desta vez, em vez de "20 centavos", o sentimento de mudança está
agora centrado no poder central.
Durante o pronunciamento, houve buzinaço, panelaço
e vaias em ao menos 12 capitais: São Paulo, Brasília, Belo Horizonte,
Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Belém, Recife,
Maceió e Fortaleza. Nas janelas dos prédios, moradores batiam panelas,
xingavam a presidente, enquanto piscavam as luzes dos apartamentos.
Petistas ouvidos pela Folha atribuem o desgaste de Dilma ao
abandono da agenda política pelo governo. Na avaliação destes
interlocutores, o Planalto apresentou uma agenda em junho e prosseguiu
com as políticas públicas, mas perdeu a comunicação com a população.
No governo, um ministro diz que a tensão nas ruas se deve ao fato de que
"ainda não saímos de outubro", referindo-se ao período eleitoral. Dilma
ganhou a eleição presidencial por uma margem apertada contra o tucano
Aécio Neves (MG).
Alguns petistas tentaram minimizar o panelaço e defendem nas redes que
os protestos se concentraram em áreas nobres, onde estão localizados
eleitores da oposição. No entanto, integrantes do governo e membros da
cúpula petista avaliam a estratégia como "fraca e defensiva", ignorando o
significado político da reação.
OPOSIÇÃO
Em nota divulgada em seu site nesta segunda-feira (9), o PT afirmou que a mobilização pode ter apoio de partidos de oposição.
"Tem circulado clipes eletrônicos sofisticados nas redes, o que indica a
presença e o financiamento de partidos de oposição a essa mobilização",
disse o secretário nacional de Comunicação do PT, José Américo Dias.
Para Alberto Cantalice, vice-presidente e coordenador das redes sociais
da legenda, a manifestação tem ligações com outras reações oriundas de
setores que pretendem um golpe contra o governo Dilma. "Existe uma
orquestração com viés golpista que parte principalmente dos setores da
burguesia e da classe média alta", afirmou.
Para o PT, o movimento foi realizado por moradores de bairros de classe
média como Águas Claras, no Distrito Federal, Morumbi e Vila Mariana, em
São Paulo, e Ipanema, no Rio, mas que não se repercutiu em áreas
populares e perdeu o alcance.
"A comprovação do curto alcance do protesto veio pelas próprias redes. A
hashtag #DilmadaMulher, em apoio à presidenta, tornou-se uma das mais
usadas pelos internautas e entrou para o trending topics do Twitter,
durante a fala da presidenta em cadeia nacional de rádio e tevê", diz o
partido.
AJUSTE
No pronunciamento,
a presidente Dilma Rousseff defendeu o ajuste fiscal, pediu apoio da
população e do Congresso na implementação de medidas que afetam a
"todos" e disse que as críticas contra o governo são "injustas".
Segundo a petista, o ajuste é uma medida tomada "corajosamente". "Mesmo
que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas
injustas e desmesuradas ao governo", afirmou.
Em sua fala, Dilma chamou o ajuste de "travessia". Negou que irá "trair"
a classe média e os trabalhadores, mas anunciou que todos pagarão pelas
medidas. "Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos
de dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade."
A defesa, conforme a Folha antecipou,
ocorreu na fala sobre o Dia da Mulher -sobre o tema, anunciou que irá
sancionar nesta segunda (9) o projeto que considera assassinato de
mulher um crime sujeito a penas mais severas.
Dilma retomou a narrativa segundo a qual o país está sob impacto da crise internacional iniciada em 2008.
Ela disse que o Brasil tem "fundamentos sólidos" e que "nem de longe [o
país] está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns. "Muito
diferente daquelas crises do passado, que quebravam e paralisavam o
país".
A presidente fez ainda uma crítica à mídia pela forma com que descreve a
economia -as previsões são bastante pessimistas para 2015, com todos os
indicadores apontando o risco de uma recessão, a inflação namorando os
8% anuais e o emprego dando sinais de arrefecimento.
"Noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes. Muitas vezes nos confundem mais do que nos esclarecem."
Ainda assim, admitiu que a situação é preocupante. "Você tem todo
direito de se irritar e de se preocupar", disse, após elencar que o país
vive a "segunda etapa" da crise, agravada pela seca no Sudeste e no
Nordeste.
Fez então o tradicional apelo por união de governantes. "Peço a você que
nos unamos e que confiem na condução deste processo pelo governo, pelo
Congresso."
A menção ao Parlamento reflete as dificuldades que o governo enfrenta
nas Casas dominadas por um PMDB cada vez mais arredio, com seus dois
presidentes culpando o Planalto pela sua inclusão na lista de investigados da Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras.
Na semana passada, por exemplo, o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), devolveu a medida provisória que mudava o regime de
desoneração de folha de pagamento de vários setores e obrigou o governo a
enviar um projeto de lei, atrasando a iniciativa, parte do ajuste
fiscal, em vários meses.
Nesta semana, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deve
decidir se abre a CPI do setor elétrico. Além disso, a Casa tende a
derrubar o veto de Dilma à lei que corrige em 6,5% a tabela do Imposto
de Renda.
Dilma lembrou que em 2003 o então presidente Lula também teve de
promover um ajuste fiscal e que "depois tudo se normalizou", sem citar,
contudo, que o ambiente externo foi excepcionalmente favorável ao Brasil
naquela época, ao contrário de agora.
Sobre a Lava Jato, defendeu a "apuração ampla".
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