Políticos que serão investigados por suspeita de envolvimento com o
esquema de corrupção na Petrobras também receberam propina para
facilitar negócios com outras estatais do governo federal, de acordo com
o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema.
Detalhes dos depoimentos de Youssef vieram a público na sexta (6), após o
Supremo Tribunal Federal divulgar a relação de inquéritos abertos para
investigar os políticos supostamente envolvidos.
Paulo Lisboa - 06.fev.2015/Brazil Photo Press/Folhapress | ||
O doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, deixa a sede da PF e segue para depor na Justiça Federal, em Curitiba (PR) |
Há menções a pagamentos milionários a políticos provenientes de
contratos de órgãos como o Denatran, ligado ao Ministério das Cidades,
as estatais CBTU e Furnas, além de fundos de pensão dos Correios, da
Petrobras e de alguns Estados e municípios.
No caso do Denatran, dois ex-deputados do PP –João Pizzolatti (SC) e
Pedro Correia (PE)– serão investigados pela suspeita de terem recebido
propina de R$ 20 milhões.
Segundo Youssef, o órgão fez um convênio com a Federação Nacional das
Empresas de Seguros Privados e de Capitalização para a instituição
passar a fazer um registro específico dos veículos nacionais. Sem
concorrência, a Fenaseg contratou a empresa GRF para realizar o serviço.
Segundo consta no inquérito, a GRF era de Carlos Augusto Montenegro,
presidente do instituto de pesquisa Ibope, que seria responsável pelo
pagamento da propina.
"O negócio teria rendido cerca de R$ 20 milhões em comissões para o PP,
montante que seria pago em vinte parcelas", disse Youssef ao depor. "As
parcelas eram pagas por um empresário de nome Montenegro, dono do
Ibope."
O doleiro acusa o ex-presidente da CBTU, estatal federal de trens
urbanos, Francisco Colombo, de ter repassado R$ 106 mil apreendidos em
2012 pela Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas (SP) com o
funcionário da Câmara Jaymerson de Amorim.
Segundo o depoimento, o dinheiro foi pego por Colombo com Youssef dias
antes e era destinado ao senador Benedito de Lira (PP-AL) e ao deputado
Artur Lira (PP-AL).
Youssef relatou ter informações de que havia um esquema de pagamento de
suborno em Furnas, estatal do setor elétrico, que teria funcionado entre
1994 e 2001, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. O
doleiro contou que nessa época atuava como operador financeiro do
ex-deputado do PP José Janene, morto em 2010.
Segundo ele, Janene recebia propina de duas empresas contratadas por
Furnas. Youssef disse que presenciou Janene receber suborno de uma
destas empresas e que, de 1996 a "2000 ou 2001", a empresa repassou US$
100 mil por mês ao PP.
O doleiro afirmou que Janene lhe disse que "dividia uma diretoria de
Furnas" com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que na época era deputado
federal. Youssef disse ter "ouvido dizer" que Aécio também recebia
propina. O Ministério Público não abriu inquérito contra o tucano.
A Folha procurou a CBTU, a assessoria do Ministério das Cidades, o
presidente do Ibope e a assessoria do PP, mas não obteve retorno até a
conclusão desta edição.
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