Eles mandaram às favas o medo do estigma de golpistas. Ou promoverão o
maior ato contra a presidente Dilma Rousseff desde a reeleição, ou irão
personalizar o fiasco de uma manifestação que se pretende grande o
suficiente para chacoalhar o já debilitado quadro político nacional.
No dia 15, jovens adeptos da cartilha liberal, empresários que pregam
enxugamento radical do Estado e até defensores da intervenção militar
prometem marchar juntos em mais de 200 cidades.
Eles fazem questão de salientar suas diferenças. "Os caras do Vem Pra
Rua são mais velhos, mais ricos e têm o PSDB por trás", diz Renan
Santos, 31, do MBL (Movimento Brasil Livre). "Eles vão pro protesto sem
pedir impeachment. É como fumar maconha sem tragar."
O MBL quer impeachment mesmo que isso signifique o vice, Michel Temer,
ou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (ambos do PMDB), na
Presidência. "O PMDB é corrupto, mas o PT é totalitário", diz Kim
Kataguiri, 19.
Editoria de arte/Folhapress | ||
A tese de uma ligação com o PSDB incomoda o Vem Pra Rua, com 200 mil
seguidores no Facebook. O núcleo são cerca de 20 pessoas, a maioria
empresários que prefere o anonimato. O rosto público é Rogério Chequer,
46, sócio de uma agência de palestras.
"Não recebemos dinheiro e nem material de partido", ressalta. A ideia de
vinculação com tucanos começou a ganhar força na eleição, quando o
grupo fez passeatas por Aécio Neves. "Não defendíamos o Aécio, mas o não
voto na Dilma", diz Chequer.
Para o Vem Pra Rua ainda não há base jurídica para impeachment. Ainda
assim, o grupo engrossa o chamado ao dia 15. Alega que a pressão é
importante para que as apurações sobre a Petrobras, por exemplo,
prossigam.
Em outros protestos, o Vem Pra Rua se mobilizou para expulsar grupos que
defendem a intervenção militar. "Dessa vez vai ser tão grande que será
impossível", diz Chequer.
Grupos que defendem a tomada do poder pelos militares têm participado
dos protestos contra Dilma. No Rio, por exemplo, o que se autodenomina
Legalistas tem feito convocações. "A coisa está indo por um caminho que
não vejo outra saída", diz o sargento da reserva da Aeronáutica Tôni
Oliveira, 58.
A equiparação com intervencionistas irrita o Vem Pra Rua e o MBL. Eles
criticam a imprensa e dizem que ela faz questão de jogar todo mundo no
mesmo balaio.
Todos os grupos evitam estimar a adesão ao ato do dia 15. Internamente, falam em levar 100 mil pessoas às ruas.
De onde vem o dinheiro para organizar tudo isso? Cada um se financia de
um jeito. O MBL aceita doações e recebe alguns centavos do YouTube a
cada clique em seus vídeos. O Vem Pra Rua faz vaquinha entre seus
integrantes.
Outra celebridade dos atos contra Dilma, Marcelo Reis, do Revoltados,
arruma dinheiro de um jeito diferente. Dono da página com mais curtidas
entre os mobilizadores, ele vende o kit manifestação, com camisetinha,
boné e adesivos pró-impeachment.
O Revoltados já defendeu a intervenção militar, mas Reis diz que, hoje,
na cúpula do grupo, não há quem advogue por esse caminho. "Queremos as
regras democráticas. Impeachment está na Constituição", diz.
Reis fez de um flat de 38 metros quadrados o QG de seu grupo. O imóvel
fica no prédio em que o ministro José Eduardo Cardoso (Justiça) se
hospeda em São Paulo.
Seu grupo promete levar a banda Os Reaças para a Paulista. "Ô, ô, ô...
Todo mundo já sabe que a anta sabia. Ô, ô, ô... Que o molusco mandava e
ela obedecia. Ô, ô, ô... Impeachment! Não tem como fugir. Impeachment!
Pede pra sair...", diz o refrão.
Reis a exibiu à reportagem no último volume em seu flat. "É pra ver o se o 'ministrão' escuta", justificou, aos risos.
*
PROTESTOS CONTRA DILMA
QUEM FAZ diversos grupos no país
QUANDO dia 15 de março
ONDE Av. Paulista (SP) e em mais de 200 outros municípios
QUANDO dia 15 de março
ONDE Av. Paulista (SP) e em mais de 200 outros municípios
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