BRASÍLIA - Concordando-se ou não com os manifestantes, Dilma
Rousseff deu motivo para as vaias, o buzinaço e as paneladas de domingo.
A presidente mentiu na campanha, nomeou um ministério que envergonhou
seus próprios eleitores e sumiu na hora das más notícias. Reapareceu com
um pronunciamento fraco e palavroso, sem qualquer autocrítica sobre os
erros do governo.
Em longos 15 minutos, Dilma repetiu a ladainha da "crise internacional",
recurso batido para se eximir de culpa pelos problemas. Abusou dos
eufemismos ao chamar cortes duros de "correções e ajustes". E avisou que
vai "dividir o esforço" com a sociedade, sem ter feito sua parte para
reduzir o gasto público.
Por fim, disse que "não havia como prever" a duração da crise. Nem
parecia a candidata que, há poucos meses, negava a realidade e chamava
de "pessimildo" quem alertava para o descontrole nas contas públicas.
Pior que o discurso, só a escolha da data para ir à TV. Na sexta-feira, a
lista de Janot havia empurrado a bomba para o Congresso. Em apenas dois
dias, Dilma trouxe-a de volta ao seu colo. O foco da crise voltou a ser
ela, e não as acusações contra os presidentes da Câmara e do Senado.
A reação do PT ao panelaço foi tão desastrosa quanto o pronunciamento.
Um dirigente do partido falou em "orquestração golpista" da "burguesia" e
desqualificou os manifestantes, como se todos fossem marionetes da
oposição. Quem estava insatisfeito e não foi à janela ganhou novo
estímulo para sair de casa no dia 15.
Apesar da incrível sequência de erros, nada justifica a tentativa de
direcionar os novos protestos para um processo de impeachment. Dilma
acaba de ser reeleita nas urnas e ainda não há, segundo o ministro Teori
Zavascki, "indícios mínimos" de que tenha entrado na farra do petrolão.
Afastar um presidente é coisa séria. Ainda mais quando estão na linha
sucessória dois políticos suspeitos de receber propina do esquema que
varreu os cofres da Petrobras.
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