A imagem do Brasil no mundo encontra-se em corrosão. Oxidantes são fartamente oferecidos por nosso disfuncional governo.
Consultorias, agências de risco e bancos apontam o polegar para baixo.
Telegramas das embaixadas em Brasília às suas capitais pintam nosso
imbróglio político-econômico de cinza.
Dissemina-se uma "Brasil-náusea".
A reputação no exterior é balanço de ativos e percepções. No campo
objetivo, fundamentos macroeconômicos, desempenho de empresas, recursos
naturais, projeção geopolítica. No subjetivo, valores da política
exterior, capacidade de inovar, projeto nacional alinhado às grandes
tendências do cenário global.
Ambas as frentes estão em desequilíbrio. O mundo segue para um lado, o
Brasil, para outro. Daí "náusea", que remete à instabilidade no mar.
Águas revoltas –menor liquidez disponível aos emergentes, desvalorização
de commodities. Barco sem rumo –capitã e tripulação batem cabeça e
dificultam as severas e necessárias manobras do timoneiro das finanças.
Em anos recentes, a percepção do país já foi pior. Quando o PT tentou
desplugar o "lulômetro" em 2002, Wall St. aconselhou que o melhor era
não ganhar as eleições. Com o risco-país a 2.500 pontos, era a
Brasil-fobia.
A Carta ao Povo Brasileiro, Henrique Meirelles e a Fazenda de Lula 1.0
produziram a inflexão. Pré-sal, apetite chinês por commodities,
demografia e a alavanca do crédito nutriram o entusiasmo pelo país.
A política comercial-industrial supostamente contracíclica em 2008/9
fabricou os 7,5% de crescimento em 2010. Paul Krugman nos chamava de
"queridinhos do mercado". Superávamos o Reino Unido como sexta maior
economia. Segundo Mantega, ultrapassaríamos a França agora em 2015. Era a
Brasil-mania.
Oscilações na imagem internacional não são monopólio do Brasil. E
mudanças de humor ocorrem rapidamente. Antes da chegada de Raghuram
Rajan ao Banco Central e a eleição de Narendra Modi, a Índia atolava-se
numa paquidérmica estagnação. O primeiro tornou-se czar da economia em
setembro de 2013. O segundo conta apenas nove meses como
primeiro-ministro.
No rescaldo da crise dos subprimes, decretava-se o declínio definitivo
dos EUA. Hoje, com a elevação dos custos na China, refluem operações
para a indústria americana. Sua economia descola-se do marasmo europeu.
Sua diplomacia volta a ser crucial na Ásia, Europa do Leste e América
Latina. Agora, os EUA são vistos como superpotência "reemergente".
O sentimento no exterior não é de que o Brasil se tornará um "Estado
Fracassado". O embrulho no estômago vem da sensação de desperdício de
oportunidades, gerações que se consomem e futuro não construído.
Os próximos 18 meses serão de provação, mas o país é maior que fantasmas
do curto prazo. Esta fase de Brasil-naúsea pode não ser de todo ruim.
Talvez signifique que o sistema de defesa do organismo esteja
funcionando.
Algo de errado -o modelo brasileiro de capitalismo de Estado- teria de
ser expelido. Com isso, o país retomaria seu amplo patrimônio de
potencialidades.
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