Isolada desde o agravamento da crise no comando da Petrobras e da
derrota nas eleições da Câmara, a presidente Dilma Rousseff vai se
reunir nesta quinta-feira (12) com o ex-presidente Lula para discutir as
falhas na condução do governo no início do segundo mandato.
Desde a posse, em 1º de janeiro, Dilma e Lula tiveram um único encontro
público, na sexta (6), durante festa de comemoração dos 35 anos do PT,
em Belo Horizonte. Mas não conversaram a sós.
No último mês, assessores presidenciais e petistas apontam que há um
distanciamento entre Dilma e Lula, período em que ela teria tomado
decisões solitárias e consultado apenas o chamado núcleo duro do
Planalto, comandado pelo ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).
A expectativa de petistas e de integrantes do governo é que o
ex-presidente aponte à pupila, durante a conversa, erros na articulação
política e na comunicação que levaram a derrotas no Congresso e piora da
situação na Petrobras.
Juca Varella - 6.fev.2015/Folhapress | ||
Dilma e Lula durante comemoração dos 35 nos do PT, na sexta (6), em Belo Horizonte |
Lula, no entanto, tem dito a aliados que "desistiu" de tentar aconselhar Dilma.
A portas fechadas na última sexta-feira, Lula criticou em reunião com
petistas a articulação do governo durante a eleição da Câmara, vencida
pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo petistas, Lula disse que
era impossível ministros cometerem um erro desta dimensão. E que era
inaceitável os partidos de ministros recém-nomeados terem votado contra o
governo.
O Palácio do Planalto foi acusado por Cunha de interferir na disputa da
Câmara oferecendo cargos a congressistas em troca de votos em Arlindo
Chinaglia (PT-SP). Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Pepe
Vargas (Relações Institucionais) são alvo de críticas no próprio PT pela
operação mal sucedida de negociação na Câmara.
Além da articulação política, o ex-presidente diz, reservadamente, que
as medidas anunciadas pela equipe econômica deveriam ter sido avisadas à
CUT (Central Única dos Trabalhadores) antes de anunciadas. A central,
ligada ao PT, se queixa de ter sido informada dos ajustes juntamente com
outras centrais, como a Força Sindical, que fez campanha para Aécio
Neves (PSDB-MG) em 2014.
PETROBRAS
Aliados de Lula afirmam que ele foi comunicado, e não consultado, sobre a
escolha de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras. O
ex-presidente gosta de Bendine, mas, segundo amigos, avaliou que ele não
era o melhor nome para o momento.
Um petista que conversou com Lula disse que o ex-presidente chamou de
"gol perdido" a indicação de Bendine. Para lulistas, o substituto de
Graça Foster deveria ser um "novo Levy", em referência ao ministro da
Fazenda. Não alinhado ao PT, Joaquim Levy surpreendeu o mercado
financeiro com a promessa de resgatar a credibilidade da equipe
econômica.
Procurado pela Folha, o Instituto Lula diz "repudiar" e lamentar a
"reiterada prática do jornal Folha de S.Paulo de lhe atribuir
afirmações a partir de supostas fontes anônimas, dando guarida e
publicidade a todo o tipo de especulação".
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