Apenas três meses e meio depois do segundo turno, o país assiste à mais
rápida e profunda deterioração política desde o governo Collor.
Segundo pesquisa Datafolha, a queda abrupta de popularidade arrasta a
presidente Dilma Rousseff (PT), o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), juntos,
para a vala comum da rejeição. É como se o sentimento de junho de 2013
tivesse voltado, mas em surdina, sem protestos de rua.
A conjuntura sombria resulta da confluência do escândalo da Petrobras com a acentuada piora das expectativas sobre a economia.
O pessimismo dos entrevistados se agrava pelo contraste entre a
realidade e a imagem rósea pintada nas campanhas eleitorais do ano
passado e pela possibilidade cada vez mais concreta de faltar água e energia.
A presidente da República recebe o pior golpe, com uma inversão total nas opiniões sobre seu governo.
Em dezembro passado, Dilma tinha 42% de ótimo/bom e 24% de ruim/péssimo. Agora, marca respectivamente 23% e 44%.
São as piores marcas de seu governo e a mais baixa avaliação de um
presidente da República desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em
dezembro de 1999 (46% de ruim/péssimo).
Alckmin também viu esvair-se sua popularidade, mas menos que Dilma. O
tucano perdeu dez pontos de ótimo/bom desde outubro e caiu de 48% para
38%, nível que tinha em junho de 2013.
Haddad não se sai melhor. Empatou com Dilma em juízos negativos (44%) e
também retornou ao patamar da crise do aumento das tarifas de ônibus em
2013.
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NOTA VERMELHA
Segundo o Datafolha, Dilma obteve a primeira nota vermelha (4,8) após
quatro anos no governo e uma campanha vitoriosa pela reeleição. A perda
de prestígio da presidente se verifica mesmo nas faixas de renda em que
encontra mais eleitores.
Metade dos que ganham até dois salários mínimos consideravam seu governo
ótimo ou bom em dezembro, e agora são 27% -23 pontos de queda em dois
meses.
As más novas se acumulam em todas as frentes: escândalo na Petrobras,
piora das perspectivas da economia, aumento do pessimismo na população,
restrição de benefícios sociais e uma estiagem que ameaça apagar as
luzes e secar as torneiras.
O tema da corrupção, impulsionado pelo combustível do Petrolão, rivaliza
com a saúde pública como principal problema do país. Cravou 21% das
preferências dos entrevistados pelo Datafolha, contra 26% da saúde.
O mensalão vicejou no governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas em seus
dois mandatos não mais que 9% dos brasileiros apontavam o desvio de
dinheiro público como mal maior. Agora, a corrupção se avizinha do
pódio.
A presidente não se livra de
responsabilidade perante a população.
Segundo o Datafolha, 77% dos entrevistados acreditam que ela tinha
conhecimento da corrupção na Petrobras.
Para 52% ela sabia dos desvios e
deixou continuar; para outros 25%, sabia e nada pôde fazer
.
Quase metade (47%) dos brasileiros a consideram desonesta, além de falsa
(54%) e indecisa (50%). A imagem deteriorada alcança correligionários.
Entre petistas, 15% falam em desonestidade e 19%, em falsidade.
MENTIRAS
Não há tanto o que estranhar, quando se tem em mente que seis de cada
dez entrevistados consideram que Dilma mentiu na campanha eleitoral.
Para 46%, falou mais mentiras que verdades (25% em meio a petistas).
Para 14%, só mentiras.
Se na época do segundo turno só 6% achavam que a situação econômica do
próprio entrevistado iria piorar, hoje são 26%. Como 38% acreditam que
ficarão na mesma, conclui-se que o desalento contagia 2/3 da população.
E isso num momento em que o tarifaço, o aumento do desemprego e dos juros e a recessão nem se materializaram completamente.
Editoria de Arte/Folhapress/Tableau | ||
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FOLHA
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