O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou, em entrevista
ao Jornal Nacional, que vai descartar a cifra de R$ 88,6 bilhões,
apontada como sobrevalorização nos ativos da empresa, na tentativa de
eliminar, do balanço da companhia, os efeitos da corrupção desvendada
pela operação Lava Jato.
O número não chegou a ser lançado no balanço da Petrobras no terceiro
trimestre, divulgado há duas semanas, mas sua apresentação ao mercado
irritou a presidente Dilma Rousseff.
Bendine disse, porém, que, além dos valores atribuídos a pagamento de
propina -e lançados indevidamente como investimentos, ao longo de anos- a
empresa vai promover o ajuste de seus ativos a "valor justo", que
mostre com "clareza e transparência" quanto vale a companhia.
Simon Plestenjak/Folhapress | ||
Aldemir Bendine, 51, sucessor de Graça Foster no comando da Petrobras |
Os R$ 88,6 bilhões foram encontrados pela Deloitte e pelo BNP Paribas,
contratados pela Petrobras em janeiro para chegar a uma cifra sobre
corrupção a se dar baixa. Esta condição foi imposta pela auditoria da
Petrobras, a PwC, para assinar o balanço do terceiro trimestre, atrasado
desde novembro.
O uso do número, no entanto, foi descartado na reunião do conselho de
administração que analisou o balanço do terceiro trimestre, em 27 de
janeiro, justamente porque a conta foi feita considerando o "valor justo
dos ativos" –o valor investido frente ao retorno potencial no longo
prazo.
A alegação da antiga diretoria, que renunciou na semana passada
depois de crise desencadeada pela divulgação do número, era que esse
valor incluía efeito de câmbio, preço de compra e venda de matéria prima
e derivados, além de ineficiências em projetos. Por isso mesmo, não
poderia ser usado, no entender dos ex-diretores.
Bendine disse que a metodologia a ser usada para se chegar ao novo
número ainda está em análise, mas que, "com certeza", o cálculo será
aprovado pela PwC. "Teremos baixa de ativos, até porque precisamos ter
correção do passado. Precisamos ter um valor justo que mostre com
transparência e clareza o valor da empresa neste momento".
INDEPENDÊNCIA
Bendine assumiu na semana passada a convite da presidente Dilma Rousseff, com quem conversou antes de aceitar assumir o cargo.
Questionado sobre se teria autonomia suficiente, como pedia o mercado,
apesar da escolha ter sido feita pela presidente, Bendine disse ter
assumido o cargo com "autonomia" dada pelo conselho de administração da
empresa "ao fazer o convite".
O nome de Bendine, porém, não foi consenso na reunião do conselho que
referendou seu nome. Os três conselheiros independentes da companhia,
representantes de acionistas minoritários e de trabalhadores, reprovaram a escolha e criticaram duramente a forma como tomaram conhecimento do nome, por meio da imprensa.
Sobre a reação negativa do mercado a sua nomeação, o executivo afirmou
que os seis anos à frente do Banco do Brasil o credenciam ao novo cargo.
"Nesses seis anos, nós tivemos a oportunidade de fazer uma gestão que
triplicou os ativos do banco e dobrou o seu resultado. Então eu acho que
eu sou muito testado em relação a mercado".
COMBUSTÍVEIS
Bendine disse, ainda, não ter "dúvida nenhuma" de que a Petrobras teria
mais independência ao definir a política de preços dos combustíveis.
Disse, porém, que a empresa "não vai se sujeitar à volatilidade internacional" e que terá "visão de longo prazo".
Com esse discurso, que vem desde a gestão anterior, a Petrobras vem se
recusando a ajustar os preços dos combustíveis às cotações
internacionais, o que levou a um prejuízo acumulado de R$ 60 bilhões
entre 2011 e o terceiro trimestre de 2014, enquanto perdurou a
defasagem.
A medida atendia desejo do governo, representante da União como
controladora da empresa, que queria evitar pressão inflacionária.
Desde outubro, porém, a defasagem em relação aos preços foi zerada,
devido à queda no preço do petróleo, do patamar de US$ 110 em julho,
para os atuais US$ 45. Agora, a diferença é favorável à Petrobras.
Na última entrevista antes de sair da Petrobras, há duas semanas, Graça e
seus diretores afirmaram que se valeriam dessa condição, agora positiva
à empresa, para permitir que seu caixa se recompusesse, ao optarem por
não baixar o preço dos combustíveis no Brasil.
EMPRÉSTIMO SUSPEITO
Bendine classificou como "denúncias vazias" a revelação, feita pela Folha
no ano passado, de que, sob sua gestão, o Banco do Brasil concedeu
empréstimo de R$ 2,7 milhões, com recursos subsidiados do BNDES, a uma
empresa da socialite Valdirene Marchiori desrespeitando regras internas das instituições.
A empresária, conhecida como Val Marchiori, é amiga de Bendine. Na semana passada, o Ministério Público Federal determinou que a Polícia Federal investigue o caso.
O novo presidente da Petrobras disse que o BB já prestou esclarecimentos
sobre o caso "a mais de dez órgãos". "Quem conhece o BB sabe que o
empréstimo foi concedido dentro da norma".
Ao fim, Bendine conclamou pequenos acionistas a que "continuem a acreditar na companhia".
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